quarta-feira, 23 de março de 2011

Mapeados pontos críticos da Região Oceânica

Na mira de audaciosos criminosos, que agem diariamente na Região Oceânica de Niterói, moradores se vêem impotentes diante da violência crescente. Nas últimas semanas, estamparam as páginas policiais de O FLUMINENSE inúmeros crimes. Muitos deles, inclusive, à luz do dia e em vias bastante movimentadas; em outros, até granadas serviram para amedrontar ainda mais as vítimas. O delegado titular da 81ªDP (Itaipu), Milton Olivier, apesar do pequeno efetivo da distrital, garante que vai reverter a situação.
Ele mapeou toda a Região Oceânica, a fim de identificar os locais com maior incidência de roubos a pedestres e de veículos, além de furto de automóveis. A iniciativa, segundo ele, também serve para ajudar o trabalho da Polícia Militar.
Niterói é a primeira cidade do Estado do Rio de Janeiro e a terceira do País no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O tema qualidade de vida, que tanto atraiu famílias de outros municípios há alguns anos, vem dividindo espaço nas rodas de bate-papo com a violência e o receio de uma simples caminhada até a padaria da esquina.
"A Região Oceânica está abandonada no quesito segurança. Se existisse o título de "Cidade Violenta", Niterói, infelizmente, estaria concorrendo. A Polícia Militar tem efetivo reduzido, assim como a Polícia Civil. O número é insuficiente para atender à demanda da população", atestou Maria Rita da Silva, que é moradora de Itaipu há mais de 14 anos.
Na segunda-feira passada, por exemplo, bandidos invadiram a casa de uma advogada, de 46 anos, em Itaipu. Após amarrar e amordaçar a dona da casa e a filha, de 21, os criminosos saquearam o imóvel, deixando prejuízo estimado em R$ 40 mil. Em tempo: a dupla usou um explosivo para ameaçar as vítimas.
Após o susto, a advogada pediu que os órgãos de Segurança Pública passassem a olhar com mais "carinho e atenção" pela cidade, que, segundo ela, clama por socorro.
"O próximo governo precisará rever e investir na segurança dos moradores. Nós estamos à mercê dos bandidos, e a situação não pode continuar assim. Os órgãos de segurança precisam tomar uma iniciativa", disse ela.
Roubo a pedestres dobra
De acordo com levantamento de O FLUMINENSE na 81ª DP, um dos crimes que apresentaram aumento significativo é o roubo a pedestres. Em setembro, a delegacia registrou crescimento de 110,52%, se comparado com o mesmo mês do ano passado. Foram 19 casos em 2007, contra 40 este ano.
O mês de agosto não foi diferente. Cresceu 122,72% (sendo 22 em 2007, e 49 em
2008). Julho fechou apresentando 120% de aumento. Vinte e duas pessoas foram atacadas, 12 a mais que no mesmo período do ano passado.
Segundo o delegado Milton Olivier, os bandidos que praticam esse tipo de crime atacam, geralmente, em toda a extensão da Avenida Central, mas principalmente no bairro Itaipu, e também na Estrada Francisco da Cruz Nunes, na altura dos bairros de Itaipu e Piratininga.
Inclusive, algo peculiar foi detectado durante o mapeamento. Muitos crimes são praticados nas proximidades do Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) da PM no Cafubá. Pedestres que caminham pela Rua Ary Gomes da Silva costumam ser atacados.
"Nessas vias há muitos pontos de ônibus, o que faz com que exista um grande número de circulação de pessoas. Os bandidos passam e rendem à luz do dia mesmo, por estarem sempre à espera de uma boa oportunidade", explicou Olivier.
"As mulheres precisam estar atentas a cantadas que ganham nas ruas. Nem sempre elas levantarão o ego. Nos últimos casos analisados, constatamos que os crimes foram anunciados após uma aproximação mais sutil", continuou.
Segundo os últimos dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), em julho, a 81ª DP registrou um aumento de 100% nos casos de assalto a residências. Em 2008, foram contabilizadas 10 vítimas e em 2007, cinco. Em agosto deste ano, a distrital registrou quatro vítimas. Já em setembro, foram apenas duas casas saqueadas.
Avenida Central é uma rota de fuga
Outro tipo de delito que apresentou um aumento significativo foi o de roubo a veículos. Cresceu 200% no mês de julho – seis veículos levados em 2007, e 18 em 2008.
De acordo com investigadores, a Avenida Central também virou cenário para a prática desse tipo de crime.
"A via funciona como rota de fuga dos ladrões, que, na maioria das vezes, seguem no sentido do município de São Gonçalo", contou um agente, acrescentando que os criminosos, geralmente, chegam à região com um carro roubado minutos antes, para fazerem novas vítimas.
"Eles ficam atentos aos motoristas. Na maioria das vezes, atacam os que dirigem com os vidros abertos, pois conseguem ver a reação da vítima e acompanhar a movimentação. É necessário que os moradores fiquem atentos aos sinais de trânsito e aos cruzamentos. As entradas e saídas de veículos nas garagens das residências também têm chamado a atenção dos marginais", alertou um investigador, que também preferiu não se identificar.
Segundo as investigações, os criminosos costumam entrar pela Rodovia Amaral Peixoto e seguir pelo DPO de Várzea das Moças até chegar à Avenida Central, onde atuam. Porém, de acordo com o delegado, a onda de violência que assola a Região Oceânica poderia ser contida caso as três vias de acesso fossem patrulhadas 24 horas por dia.
A primeira delas é a de Várzea das Moças. Para os policiais civis, se fosse dificultada a entrada de criminosos pela Estrada do Engenho do Mato, no bairro de mesmo nome, e pela Avenida Central, os índices diminuiriam. Outros dois locais que também deveriam ter, segundo Olivier, uma viatura da Polícia Militar é a subida para Itaipuaçu (distrito de Maricá) e a Serrinha, em Itaipu.
"Esses são os três locais que deveriam ter militares atuando, para tentar inibir a ação de bandidos e também a entrada e saída da Região Oceânica", disse Olivier.
"As polícias Civil e Militar estão unidas e com um único objetivo: reduzir os índices de criminalidade. Nós estamos juntos nesta luta e trabalhando em ações planejadas, para reprimir principalmente o uso de motocicletas irregulares".
Efetivo reduzido
Os altos índices de violência na Região Oceânica também têm tirado o sono de muitos investigadores da 81ª DP, que precisaram desativar dois setores fundamentais da distrital por falta de efetivo. Não há policiais suficientes para cuidar do Setor de Investigação (SI) e do de Roubos e Furtos, normalmente destinados a equipes de inteligência que trabalham com um único objetivo: chegar à identificação dos autores desses tipos de crimes.
Na delegacia, O FLU teve acesso à escala de plantões dos policiais e pôde ver que a delegacia possui 23 servidores. Porém, dois estão de licença médica. Uma policial está em situação de "readaptação", ou seja, só pode fazer serviços internos ou próximos à própria residência. Um agente está de férias, e outros três têm idades entre 68 e 70 anos e se aposentarão nos próximos dois meses.
Sem contar com os dois delegados da unidade, a distrital tem apenas 14 homens que se dividem em plantões apertados, já que, para a delegacia funcionar, precisa de pelo menos oito policiais trabalhando diariamente. Enquanto isso, o Censo de 2000 informou que residem na Região Oceânica, cuja área é de 49,10 quilômetros quadrados, cerca de 55.681 pessoas.
Milton Olivier não quis comentar sobre o efetivo. O documento que apresenta tais informações é público e estava exposto num quadro da delegacia. Ao ser indagado sobre o baixo efetivo, o chefe da Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (CRPI), delegado Juarez Knauer, disse que já solicitou o remanejamento de investigadores lotados em outras distritais. "Já pedimos que pelo menos quatro policiais sejam remanejados. Entretanto, ainda não há previsão para que a mudança ocorra. A delegacia está com problemas, mas os agentes ainda estão conseguindo
reagir", disse Knauer.
Casos de grande repercussão
No dia 13 de outubro, quatro bandidos, armados com pistolas, fizeram um arrastão na Avenida Central, perto do acesso ao Engenho do Mato. Pelo menos seis pessoas que caminhavam pela via foram atacadas pela quadrilha.
No mesmo dia, a advogada X., de 46 anos, e a filha Y., de 21, tiveram a casa onde moram invadida e saqueada. O imóvel fica na Rua Frei Fabiano, em Itaipu. Os ladrões levaram jóias e eletroeletrônicos, deixando prejuízo estimado em R$ 40 mil.
No dia 9, duas lojas e uma mulher acabaram sendo roubadas na movimentada Avenida Central. Um dia depois, bandidos armados voltaram a agir na via. Três pessoas, sendo um casal, foram atacadas em um intervalo de duas horas.
Em setembro, no dia 26, cinco homens armados assaltaram uma agência do Bradesco, na Rua Almirante Tamandaré, em Piratininga. O grupo roubou R$ 34 mil reais, além de pertences e dinheiro de clientes que estavam na agência no momento do assalto.
No dia 24, um advogado de 39, foi vítima do crime conhecido como "saidinha de banco", em Itaipu. A vítima foi atacada por um homem armado de pistola após sacar R$ 7.250 de uma agência do Banco Itaú na Estrada Francisco da Cruz Nunes.
Em agosto, no dia 25, um policial rodoviário federal foi baleado quando passava pela Rua 79, no Engenho do Mato. O agente, que não teve o nome revelado, desconfiou de três homens em um Gol cinza. Ao abordá-los, houve troca de tiros e o policial foi baleado na perna e no tornozelo esquerdos.
No dia 13, um pedreiro, de 40 teve a casa invadida por cinco bandidos. No imóvel, que fica na Rua 45, no Sítio São Sebastião, em Itaipu, a vítima foi amarrada e amordaçada pelos criminosos, que fugiram logo após saquearem a residência.
No dia 5, a casa de um médico, de 58, na Rua das Colinas, em Itaipu, foi invadida e saqueada por três homens armados. O trio fugiu roubando laptop, celulares e R$ 5 mil em espécie.
No dia 2, um aposentado, de 58, foi vítima de um seqüestro-relâmpago, na Estrada Francisco da Cruz Nunes, em Itaipu. Ele foi libertado em São Gonçalo.
Comandante promete rondas
O comandante do 12º BPM (Niterói), tenente-coronel Ricardo Pacheco, disse que está reforçando o patrulhamento ostensivo na Região Oceânica. Segundo o oficial, será comum a realização de rondas nas principais vias de Itaipu e do Engenho do Mato.
"O objetivo é reprimir a ação desses criminosos. Esse trabalho não tem data nem hora
para terminar", salientou. Pacheco se recusou a comentar as declarações de Milton Olivier sobre os três pontos de entrada e saída da região.
"O patrulhamento já vem sendo feito. Não vou comentar qualquer tipo de comentário".
Camboinhas: tranqüilidade é maior
O presidente da Sociedade Pró-Preservação Urbanística e Ecológica de Camboinhas (Soprecam), Stuessel Amora, informou que está sempre em contato com o DPO que funciona na entrada do bairro.
"A ligação é direta com o DPO, que é a ferramenta mais próxima de segurança que nós temos. Em qualquer sinal de problema, eles são acionados. Atualmente, a situação não está tão crítica aqui no bairro. Existem problemas com moradores fora daqui, mas não há nada que possamos fazer", disse o presidente.
O Fluminense( Larissa Lima e Sérgio Jardim )

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