quinta-feira, 18 de novembro de 2010

LEITURAS DO GLOBO
Jornal persegue indígenas da etnia Tenetehara
Por Murilo Marques Filho em 9/3/2010
No domingo (28/02/2010), o jornal O Globo (caderno da edição para Niterói) publicou um atentado contra a deontologia da profissão jornalística em matéria assinada por Luiz Gustavo Schimtt, relatando a expulsão de uma família Tenetehara (Guajajara) de um terreno no loteamento Maravista, em Itaipu (Niterói, RJ). O jornalista Schmitt, que se omitiu a buscar o fato, relata o que não viu, reporta apenas uma versão (caluniosa) e se recusa voluntariamente a publicar aquilo que foi apurado (gravado e anotado), não dando chance ao contraditório – e condenando, assim como fizeram os agentes municipais, sem provas, sem processo e sem decisão transitada em julgado, uma família que não havia praticado crime algum.
Aquilo que quer se apresentar como matéria jornalística se resume a uma peça tendenciosa e caluniosa, sem qualquer compromisso com a apuração dos fatos e com a verdade, articulada com todo o leque de irregularidades que caracterizaram a operação de despejo da família Tenetehara.
Não se trata apenas de um caso exemplar de mau jornalismo, mas de flagrante perseguição contra a etnia mais numerosa da Amazônia oriental (de língua Ze´egete, ou proto-Tupi) e um dos mais importantes grupos de Tronco Tupi. Há precedentes na atuação do O Globo quando se de trata de fatos relacionados a grupos ou indivíduos Tenetehara no Município de Niterói. Em fevereiro de 2009, em um episódio que contou com intenso massacre difamatório contra indivíduos do Povo Tenetehara e seus aliados, com severas calúnias e ataques à honra pessoal, roubo e espancamento de um agente de saúde, chuva de pedras contra a habitação com teto de palha de uma família de mesma etnia com crianças pequenas no seu interior e que culminou com a expulsão da referida família do bairro de Camboinhas, Niterói, pelas forças do Estado (objeto de investigação criminal por ato de improbidade administrativa cometido pela Fundação Nacional do Índio, Funai, na pessoa do servidor Cristino Machado, que feriu o artigo 37 da Constituição em favor de uma família Guarani), o Globo omitiu toda violência cometida contra o grupo removido a força e seus defensores, só dando espaço à versão dos seus algozes e se recusando a registrar o relato dos representantes do grupo de fala proto-Tupi.
"Índio bom é índio morto"Ao invés de mandar apurar os fatos, como é dever de um órgão de comunicação, o jornal em fevereiro de 2009 se limitou a publicar que Arão da Providência, advogado da etnia Tenetehara e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB, representante legal da família expulsa de Camboinhas, fora procurado, mas não tinha sido encontrado – colocando em si o nariz de Pinóquio (o advogado Arão da Providência esteve em seu escritório durante toda a semana e não recebera nenhum telefonema da reportagem do Globo sobre o assunto – tendo, inclusive, enviando e-mail ao jornal dando sua localização e seus telefones e se dispondo a esclarecer qualquer dúvida sobre o caso).
A respeito da mega-operação que expulsou os indígenas da etnia Tenetehara de Maravista (ver aqui), seria interessante aqui seguir os passos que Schmitt se recusou a dar e realizar aquilo o que O Globo se negou a fazer no domingo, 28/02/2010: ir aos fatos.
Na tarde de quinta-feira, dia 25/02/2010, no loteamento Maravista, em Itaipu, na localidade conhecida como Morro da Peça, uma família de índios Tenetehara, formada por um pajé (Shimon Tenetehara), a sua esposa e sete crianças entre 2 e 14 anos, foi despejada na chuva, na lama, sem tempo suficiente sequer para recolher todos os seus pertences – uma telha caiu sobre as costas da mulher, Maria, que tentava salvar o pouco que tinha. A mega-operação, comandada pelo secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói, José Antonio Toro Fernandez, Zaff, contou com forças da Guarda Municipal, Polícia Civil (81 DP), Polícia Militar, Conselho Tutelar, Secretarias de Assistência Social, Defesa Civil e Segurança, Obras, Fiscalização e Controle Urbano para derrubar uma simples casa de barro e taboca (taquara), ocupada por uma família humilde com crianças pequenas – e aterrorizar os indígenas com o intuito que esses nunca mais pisassem em Niterói. A justificativa para a ação desproporcional, segundo as palavras de Zaff, testemunhadas por dezenas de pessoas, era a de que "índio em Niterói só o Araribóia". Ou seja, para o secretário municipal, "índio bom é índio morto".
Racismo e discriminaçãoO jornal O Globo, que tinha conhecimento total da operação tendo sido prontamente avisado, além de ter ciência prévia da pressão municipal sobre a família indígena (e, pelo que tudo faz crer, sabia de véspera da ação do poder público a ser executada ali), não enviou nenhuma equipe ao local com a possível intenção de preservar a imagem do secretário Zaff – um político que certamente não quer ser visto pela opinião pública como racista nem algoz de crianças indígenas e que foi premiado pelo veículo de comunicação com uma versão unilateral sobre o ocorrido, publicada no jornal de domingo (apesar do jornal ter em mãos a versão das vítimas, que contradiz totalmente aquela veiculada pelo poder público e reproduzida pelo periódico, gravada e anotada – com a presença de testemunhas – na véspera da ação de desocupação).
A recusa de O Globo de presenciar a desocupação – a despeito dos apelos de Arão da Providência, da Comissão de Direitos Humanos da OAB, que se dirigia ao local – abria brecha para prováveis truculências durante a operação (visto a notória violência do secretário Zaff, que fez transação penal – pagando cesta básica para não ir a julgamento por lesão corporal – em 2007 e foi denunciado na 77ª DP por atentado a tiros no fim de 2004, episódio no qual as testemunhas oculares temeram seguir em frente), o que pode ser caracterizado como um caso flagrante de omissão profissional. Uma viatura da Polícia Civil estacionou na entrada do terreno e policiais desceram em direção da casa cerca de cinco ou dez minutos antes da chegada dos agentes municipais, mas ao verem uma câmera de vídeo retornaram ao carro (o que faz crer que, com a ausência de uma câmera para testemunhar e registrar, a ação poderia ter sido mais brutal).
O jornalista Luiz Gustavo Schmitt deixou de reportar o terrorismo psicológico dos membros do Conselho Tutelar contra os adultos indígenas – com a ameaça levar as crianças, todas matriculadas em escolas públicas da região – e a violenta coação de José Antonio Toro Fernandez, Zaff, contra os moradores tradicionais (ameaçados aos gritos os munícipes de perderem suas posses caso ousassem "ajudar índios"), que culminou na insigne frase que deverá ficar nos anais do racismo e da discriminação étnico-racial fluminense: "Índio em Niterói só o Araribóia!"
Expulsão truculentaGlobo, com sua recusa em comparecer ao local do fato, deixou de cumprir sua função como órgão de imprensa, deixando de dar aos seus leitores o conhecimento de episódios de intolerância religiosa, intolerância étnico-racial, abuso de autoridade, constrangimento ilegal, obstrução ao direito de ir e vir, calúnia e coação cometidos por servidores públicos e representantes da atual gestão administrativa do município que diz servir.
O Globo deixou de registrar o agente municipal, assessor direto de Zaff, dizendo ao Pajé que sua família não poderia permanecer, pois seus filhos, matriculados em escolas municipais, "tiram as vagas das crianças de Niterói". O Globo deixou de reportar esse mesmo agente gritando rispidamente com o pajé, usando palavras de baixo calão, quando ele tentou esticar um toldo no chão – sobre sua propriedade, comprada com dinheiro próprio, em um loteamento reconhecido pela prefeitura – dizendo que ele não poderia ficar ali, tendo que sair imediatamente e escolher se iria "para o abrigo ou de volta para o Maranhão".
Luiz Gustavo Schmitt perdeu a oportunidade de presenciar o Conselho Tutelar e o poder municipal lidando com indígenas como se mendigos fossem (nem mesmo os moradores de rua podem ter sua dignidade humana destratada dessa forma), sem qualquer respeito pela especificidade cultural dos Tenetehara, protegida por legislação específica, e os encaminhando para a Assistência Social (não fosse a chegada de parentes, entre eles, um advogado, os adultos estariam agora no Abrigo Municipal e as crianças sobre as garras do CT).
A omissão do O Globo em presenciar tais fatos parece estar articulada com a disposição dos agentes do poder público envolvidos na operação em exterminar silenciosamente – fora das vistas da opinião pública – a presença da etnia Tenetehara da região oceânica de Niterói, área onde há forte atuação especulativa do setor imobiliário. Às vésperas da mega-operação de desocupação do terreno Tenetehara, comprado com dinheiro próprio por indígenas da etnia (o que não é citado em nenhum momento pela matéria), o repórter de O Globo, segundo o Pajé e testemunhas disse, "amanhã vem um pessoal aí" – o que foi interpretado como mais uma visita da reportagem. O que se deu, no dia seguinte, foi a truculenta expulsão de uma família com crianças pequenas sob a chuva e a demolição de seu lar.
"Mortandade de animais" e "corte de árvores"Apesar de ter ouvido – e gravado – a versão do pajé de que sua família só se alimenta de "comida de supermercado", que o arco e a flecha são "artesanato para vender", que a madeira de sua casa fora comprada em loja (com recibo) e que sua intenção é a de preservar a Mata Atlântica remanescente "para os netos", O Globo – que insiste, em suas matérias, em utilizar expressão com pesada carga pejorativa como "tribo", ao invés de etnia – informa apenas a denúncia, feita a mando do secretário Zaff, de que ocorriam no local "cortes de árvores" e "mortandade de animais" – desprezando tudo o que fora apurado anteriormente pela reportagem.
Na matéria, que usa o eufemismo "remover" para se referir à expulsão brutal de uma família com crianças pequenas sob a chuva, a destruição de sua casa e a coação das testemunhas, a justificativa da violência é feita pelo secretário Zaff: "Eles estavam em péssimas condições" (o que denota preconceito com o modo tradicional de viver dos Tenetehara, que dormem em redes, não respeitando a sua especificidade cultural) e "não tinham licença da prefeitura para cortar árvores" (o que se resume a uma acusação – a de "cortar árvores" – sem provas e uma condenação sem qualquer procedimento legal).
É importante não deixar de citar que na segunda-feira, dia 22/02/2010, agentes da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Niterói já haviam estado no terreno averiguando uma denúncia de que haviam "cortado uma árvore" e, na ocasião, expressaram a preocupação municipal com a possibilidade do local se transformar em uma "favela indígena" (o que denota mais inquietação quanto aos danos na cotação da área no mercado imobiliário do que propriamente com a questão ambiental).
Foi averiguado durante essa inspeção dos agentes municipais – e o representante legal dos Tenetehara pode confirmar na terça-feira, 23/02, na sede da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – que não havia qualquer flagrante ambiental nem processo administrativo contra os indígenas, o que não impediu ao secretário Zaff de fazer queixa de crime na 81 DP, alegando "mortandade de animais" e "corte de árvores", e de declarar ao Globo que havia corte irregular de árvores cometido pelos Tenetehara (sem autorização da prefeitura).
Constatar um crime e não agir é crimeA atitude do secretário Zaff de acusar criminalmente os indígenas sem processo administrativo nem flagrante ambiental parece ter raízes na sua ligação com o setor imobiliário, fortemente preocupado com o surgimento de possíveis "favelas indígenas" na região oceânica de Niterói, área nobre e disputada pelas imobiliárias e empreiteiras. Quando vereador, em 2008, Zaff, um personagem totalmente desvinculado ao ambientalismo, participou do conluio encabeçado pelo então secretário de Urbanismo, Adir Mota Filho, que resultou na aprovação do PUR (Plano Urbanístico Regional), uma violação do Plano Diretor da Cidade – passando por cima de toda legislação federal de proteção ambiental e de proteção ao patrimônio histórico, prevendo edificações sobre áreas de conservação ambiental e sobre sítios arqueológicos da cidade – em favor do ramo imobiliário.
Por sua atuação intransigente em favor da aprovação do PUR e em defesa dos interesses imobiliários, o vereador reeleito Zaff foi alçado à condição de secretário do Meio Ambiente e Recursos Hídricos pela atual gestão municipal. A calúnia publicada na edição de domingo de O Globo – que reproduziu, sem expor ao contraditório, as palavras do agora secretário Zaff – parece mais atender às preocupações do setor imobiliário – como as expressas nas palavras de Stuessel Amora, personagem ligado à especulação que recebeu das mãos de Zaff, quando vereador, o título de Cidadão Niteroiense, de que a região oceânica não pode comportar o surgimento de "uma favela indígena" – do que com a questão ambiental em si.
A calúnia – acusação falsa que fere a honra e a reputação; mentira, invenção, embuste – inicia já no subtítulo da matéria publicada pelo O Globo no domingo, 28/02: "Grupo é retirado por agentes municipais por ocupar uma zona de conservação da vida silvestre". A equipe de reportagem do jornal esteve na habitação Tenetehara, onde entrevistou longamente o pajé e tirou fotos do terreno, e pode constatar de que a família indígena ergueu uma casa sobre um antigo campo de futebol tomado pelo capim alto – dentro de um loteamento reconhecido pela própria prefeitura (ver mapa em anexo), com intensa compra e venda de imóveis.
O Globo cita logo no primeiro parágrafo a denúncia de mortandade de animais e corte de árvores (que animais?, que árvores?), feita pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos à 81ª DP, sem citar se a denúncia foi apurada e qual a medida tomada contra esses graves crimes ambientais. Caso houvesse mortandade de animais e corte de árvores era obrigação profissional de Luiz Gustavo Schmitt investigar e reportar, assim como, era obrigação legal do secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos apurar, constatar e prender os responsáveis – pois, a municipalidade tem poder de polícia, seus atos são revestidos de legalidade e validade e é seu dever constitucional fazer cumprir a lei. Constatar um crime e não agir é crime também.
E essa omissão da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos está articulada, ao que se parece, à omissão do O Globo em relatar os fatos apurados, preferindo publicar uma denúncia sem provas, fazendo crer ao leitor que o que foi dito – pelo secretário – era fato.

Felicidade

Felicidade perfeita é só no céu, mas ela deve começar na terra!Chorar com quem chora também é um modo de levar felicidade!
Por incrível que pareça, muitos não sabem ser felizes alegrando-se com quem se alegra!
Quero-te a felicidade de ver tudo cor de rosas!
Quero-te a felicidade de falar bem sobre o amor, e a felicidade de amar fazendo o bem!
Quero-te a felicidade de seres atendido pelos ricos, e a felicidade de atenderes os pobres!
O segredo da felicidade de Teresa de Calcutá está em fazer aos pobres o que muitos não fazem a ninguém!
Toda a felicidade não é a graça de ter tudo, mas é a graça de ser tudo para todos!
Ter tudo neste mundo não é a felicidade do céu, mas não ter nada faz a terra ser um inferno!
Certamente não é pequena a felicidade que Deus promete a quem atende os pobres!
Se o pão faltar para a maioria, não é só a maioria que ficará sem a felicidade da paz!
Lembra-te que a tua felicidade não pode ser só tua!
PAZ & BEM
ORLANDO GAMBI
Editora Santuário.
A INVENÇÃO DO PURGATÓRIO


Na Idade Média notamos o desenvolvimento de uma série de fatos e experiências históricas que fizeram da Igreja uma das mais poderosas instituições daquela época. A difusão dos preceitos cristãos pela Europa e em outras partes do mundo fez com que os dirigentes desta denominação religiosa interferissem profundamente nos hábitos, concepções e modos de agir de um grande número de pessoas daquela época.

Apesar da visibilidade de todo esse processo, não podemos chegar à simplista conclusão de que os clérigos conseguiam fazer com que as pessoas fizessem aquilo que eles bem entendessem. A Igreja influiu na sociedade de sua época, mas também houve situações em que essa poderosa religião também teve de dialogar com as situações e impasses gerados pelos seus próprios seguidores. Para compreendermos tal ponto, podemos tomar a questão da vida após a morte como um interessante exemplo.

Até o século XII, o cristão estava destinado às glórias e o conforto dos céus ou ao tormento eterno mantido nas profundezas do inferno. A proposição de destinos tão diferentes, fez com que vários fiéis buscassem uma vida predominantemente voltada para a garantia de salvação. Mas como bem sabemos, desde aquele tempo, os pecados atingiam a muitos cristãos e, por isso, pairava uma enorme dúvida sobre qual seria o destino de alguém que não foi nem completamente bom ou ruim.

Nesse período, é interessante frisarmos que a ordenação social legitimada pela Igreja passava a escapar do seu controle. O mundo medieval antes dividido entre clero, nobreza e servos passava a ganhar a entrada de pessoas que não se ajustavam completamente a esse modelo harmônico dos clérigos medievais. Passando a viver no efervescente ambiente urbano, muitos fiéis e clérigos não tinham meios seguros para dizer se alguém levou ou não uma vida louvável aos olhos de Deus.

De fato essa discussão era bastante antiga e já tinha presença nos escritos de Santo Agostinho, no século IV. Segundo esse teólogo medieval, o indivíduo que teve uma vida mais inclinada ao pecado seria destinado ao Inferno, mas poderia sair dessa condição através das orações feitas pelos vivos em sua memória. Já aqueles que não foram inteiramente bons passariam por um estágio de purificação que poderia trazê-lo para os céus.

Até então, o purgatório era compreendido como um processo de salvação espiritual que fugia do que era normalmente convencionado pela Igreja. Segundo a pesquisa de alguns historiadores, a ideia de que o purgatório fosse um “lugar à parte” somente tomou forma entre os séculos XII e XIII. Contudo, engana-se quem acredita que esse terceiro destino no post mortem seja uma proposta originalmente concebida pela cristandade ocidental.

Os próprios judeus acreditavam que aqueles que não eram nem bons ou maus seriam levados a um lugar onde a pessoa sofreria castigos temporários até que estivessem aptos para viverem no éden. Entre os indianos, os “intermediários” poderiam viver uma série de reencarnações que os levariam até os céus ou ao inferno. Sem dúvida, podemos ver como a própria condição do homem e sua experiência histórica influíram na visão de mundo de várias crenças.




Por Rainer Sousa 
Mestre em História

Homens são presos acusados de roubar igreja na Região Oceânica | Jornal O Fluminense

Homens são presos acusados de roubar igreja na Região Oceânica | Jornal O Fluminense
Crimes que Abalaram
Como todos sabem está ocorrendo o julgamento do casal Nadorni, isto me fez lembrar de tantos outros casos ocorridos no Brasil.



Alguém lembra destes?

Crimes que abalaram o Brasil

Tim Lopes

Produtor da Rede Globo, o jornalista Tim Lopes foi capturado por traficantes e morto durante uma reportagem policial, em junho de 2002. O assassinato seria vingança dos bandidos do morro por outra reportagem de Tim, sobre a venda de drogas no morroVeja também:

Daniela Perez/Guilherme de Pádua

Em 1992, a atriz Daniella Perez, 22 anos e à época famosa pelo papel da personagem Yasmin, na novela De corpo e alma, da TV Globo, foi assassinada com 18 golpes de tesoura, no Rio de Janeiro. Os autores do crime foram o ator Guilherme de Pádua, que vivia o Bira na mesma novela, apaixonado pela personagem Yasmin, e Paula Thomaz, mulher de Guilherme à época

Caso Isabella Nardoni
*Ocorrendo o julgamento esta semana.

Isabella Nardoni, 5 anos, morreu após cair da janela do prédio onde morava com o pai, Alexandre Nardoni, e a madrasta, Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, na zona norte de São Paulo, em março de 2008. O pai e a madrasta são acusados do crime pois a criança foi jogada por Nardoni após apanhar de Anna Carolina, segundo laudos da polícia e o Ministério Público

Caso Richthofen

Em 2002, Suzane von Richthofen, então com 22 anos, matou os pais, Manfred e Marísia von Richthofen, com a ajuda dos irmãos Cristian e Daniel Cravinhos namorado de Suzane na época do crime

Liana Friedenbach/Champinha

Os estudantes Liana Friedenbach, 16, e Felipe Silva Caffé, 19, foram assassinados quando acampavam na região de Embu-Guaçu, na Grande São Paulo, em 2003. Os dois mentiram para os pais sobre onde estariam, e foram rendidos por bandidos. Antes de ser morta a facadas pelo então adolescente Champinha, Liana foi estuprada. Cinco pessoas foram acusadas de envolvimento no sequestro e morte do casal

João Hélio

O menino João Hélio Fernandes, 6 anos, morreu ao ser arrastado por 7 quilômetro do lado de fora de um carro, durante um assalto no Rio de Janeiro, em 2007. Ladrões tomaram o carro da mãe do menino, e João Hélio ficou preso pelo cinto de segurança. O corpo do menino foi achado com o crânio esfacelado junto ao veículo, abandonado pelos bandidos em uma rua no subúrbio do Rio

Ives Otta

Em agosto de 1997, o menino Ives Ota, então com 8 anos, foi sequestrado e morto porque reconheceu um de seus raptores, um policial militar que trabalhava de segurança para o pai do menino, o comerciante Massataka Ota

Sequestro de Sílvio Santos

Em 21 de agosto de 2001, a filha do apresentador Sílvio Santos, Patrícia, foi rendida na garagem de casa e levada por sequestradores. Ela é solta no dia 28, e pouco depois, a polícia descobre a localização do mentor do sequestrado e vai atrás dele. Ele escapa do cerco, em um flat em Barueri (SP), no qual dois policias são mortos, supostamente por ele. Em fuga da polícia, o criminoso invade a casa de Sílvio Santos, e só saí de lá após negociações que envolveram o próprio governador do Estado à época, Geraldo Alckmin, que lhe garantiu que não seria morto.

Crime da Rua Cuba

Um dos crimes mais famosos dos anos 80, nunca foi solucionado. Na véspera do Natal de 1998, Jorge Toufic Bouchabki e sua mulher Maria Cecilia Delmanto Bouchabki foram assassinados, e o filho de 18 anos do casal foi apontado como o principal suspeito do crime, ocorrido na rua Cuba, no Jardim América, bairro nobre de São Paulo. Jorginho, o filho, foi denunciado pelo Ministério Público como autor do crime, mas não houve provas que indicassem sua responsabilidade no assassinato. O caso foi arquivado, e a arma do crime não foi achada.

Morte de Calouro da USP

Em 1999, o calouro da Usp Edison Tsung Chi Hsueh, 22 anos, morreu afogado em uma piscina da universidade durante um trote. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) arquivou o caso em 2006, por entender que não havia elementos para justificar a acusação de homicídio. Ninguém foi punido

Maníaco do Parque

O motoboy Francisco de Assis Pereira ganhou fama como o "Maníaco do Parque" após ser preso, em agosto de 1998. O apelido vem do fato de que o motoboy seduzia suas vítimas com falsas promessas de emprego em uma agência de modelo e as levava até o Parque do Estado, na divisão de São Paulo e Diadema (ABC paulista), e lá abusava delas. Em algum caso, ele matou as vítimas. O maníaco cumpre pena de 270 anos de prisão

Maníaco do Shopping/Mateus da Costa Meira

Em 1999, o estudante de medicina Mateus da Costa Meira, 24 anos, invadiu uma sala de cinema do Morumbi Shopping, em São Paulo, e disparou a esmo contra a platéia, matando três pessoas e ferindo cinco

Caso Pedrinho

O caso Pedrinho ficou nacionalmente conhecido em 2002, mas aconteceu muito antes. O garoto Pedro Rosalino Braule Pinto, o Pedrinho, e a menina Aparecida Ribeiro da Silva, a Roberta Jamilly, foram sequestrados quando eram bebês, em 1986 e 1979, respectivamente. Apontada como a sequestradora das crianças, a empresária Vilma Martins da Costa foi condenada pelos sequestros em 2003, e conseguiu a liberdade condicional em 2008

Pimenta Neves

A jornalista Sandra Gomide foi morta a tiros em 2000 pelo namorado, o também jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, em um haras em Ibiúna, interior de São Paulo. Pimenta Neves confessou o assassinato, mas não ficou preso. O motivo do crime seria o fim do relacionamento do casal

Caso Eloá

É lembrado como o mais longo caso de cárcere privado no Estado de São Paulo. No dia 13 de outubro de 2008, a estudante Eloá Cristina Pimentel foi refém do ex-namorado Lindemberg Alves por 100 horas no apartamento em que morava com a família, num conjunto habitacional na periferia de Santo André, região do Grande ABC. Inconformado com o fim do relacionamento, o motoboy invadiu a casa armado e deu início ao sequestro que duraria quatro dia. O caso terminou depois de negociações tensas e uma sequência de trapalhadas da polícia paulista. Com um tiro na cabeça, Eloá morreu no dia seguinte. Sua melhor amiga, Nayara Rodrigues, foi ferida com um tiro no rosto

Sequestro do ônibus 174

Foi transmitido ao vivo e rendeu até filme. Em 2000, o ônibus 174 (linha Gávea-Central) foi sequestrado no Rio e seus 11 passageiros, feitos reféns pelo assaltante Sandro do Nascimento. O assalto, que durou quatro horas, foi transmitido pela TV para todo o Brasil. Após horas de negociações com a polícia, Sandro desceu do veículo com uma arma apontada na cabeça da professora Geisa Gonçalves. Os dois morreram quando um soldado do Bope tentou balear o sequestrador e atingiu de raspão a professora. O criminoso matou a mulher e foi levado do local com vida, mas chegou morto ao hospital, por asfixia. Os PMs apontados como assassinos de Sandro foram absolvidos. O episódio virou o documentário 174, de José Padilha e Felipe Lacerda, que ganhou prêmios internacionais




Sequestro de repórter da Globo em 2006

Em 2006, homens ligados à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) sequestraram o repórter da TV Globo Guilherme Portanova, e um auxiliar técnico da emissora, Alexandre Calado. Portanova só foi solto após a Globo exibir uma gravação dos bandidos cobrando melhorias no sistema penitenciário

Ataques do PCC

Saldo de mais de 150 mortos, ônibus incendiados, policiais mortos em plena luz do dia e atentados contra agentes de segurança penitenciária foram os instrumentos usados pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) em uma série de ataques que pôs a cidade de São Paulo de joelhos. O motivo foi uma série de transferências de presos que começou na noite de sexta, 12 de maio de 2006, e só parou três dias depois

Caso Farah Jorge Farah

O cirurgião plástico Farah Jorge Farah matou e esquartejou a ex-cliente e amante Maria do Carmo Alves, em janeiro de 2003. Além disso, para dificultar que o corpo fosse identificado, foram removidas as digitais dos pés e das mãos, além da pele do peito e do rosto

Caso Gil Rugai

Em 2004, o empresário Luiz Rugai e sua mulher, Alessandra Troitino, foram assassinados a tiros em casa, em Perdizes, zona oeste de São Paulo. O ex-seminarista Gil Rugai, filho do empresário, é apontado como o principal suspeito da morte do pai e da madrasta.

O Crime da Mala

O imigrante italiano José Pistone desconfiava da fidelidade de sua mulher, Maria Mercedes Féa Pistone, grávida de 6 meses. Após uma crise de ciúme, o homem esganou Maria até a morte dentro da própria casa, no Centro da capital paulista, em outubro de 1928. Após o crime, foi a uma loja na Avenida São João, onde comprou uma grande mala para acondicionar o corpo. Como o cadáver já estava rígido, Pistone precisou quebrar o pescoço e cortar as pernas da “amada”.
Já preenchida, a mala foi despachada, via Estação da Luz, para o porto de Santos, na Baixada Santista, onde embarcou em um navio com destino a Bordeux, na França. “No navio, a mala começou a cheirar mal e chamou a atenção dos tripulantes”, afirmou Armenui Herbella, curadora do Museu da Polícia Civil, popularmente conhecido como museu do crime.
O malote foi entregue para a polícia, que investigou a origem do corpo. “Por causa da nota-fiscal da mala, os policiais chegaram ao endereço de Pistone”, contou a curadora. O homem foi preso e condenado a 31 anos de prisão por homicídio e profanação de cadáver. Em 1948, foi solto. Casou-se novamente e morreu em Taubaté, no interior de São Paulo.

Chico Picadinho

Em agosto de 1966, um apartamento da Rua Aurora, no Centro de São Paulo, foi palco de um crime bárbaro. Naquele dia, a bailarina austríaca Margareth Suida, de 38 anos, foi estrangulada até a morte e seu corpo, retalhado em vários pedaços. Na metade daquele mês, a polícia descobriu o autor do crime: Francisco Costa Rocha, popularmente conhecido como Chico Picadinho. Ao ser interrogado, descreveu, com detalhes, como esquartejou a vítima utilizando tesoura, faca e lâmina de barbear. Questionado sobre a motivação do crime, Chico disse que a bailarina lembrava sua mãe. Por esse crime, foi condenado a 17 anos e meio de prisão.
Em junho de 1974, teve a liberdade condicional concedida pela Justiça. Dois anos depois, em um apartamento na Avenida Rio Branco, também no Centro, novamente esganou uma mulher até a morte. A vítima, desta vez, foi Ângela de Souza da Silva. O corpo da mulher, assim como o de Margareth, foi retalhado por Chico, que usou um serrote, uma faca e um canivete.
Os membros foram acondicionados em uma mala de viagem e algumas partes que não couberam, foram jogados no vaso sanitário do banheiro do apartamento. Chico fugiu de São Paulo, mas foi encontrado e preso em Caxias, no Rio de Janeiro. Julgado pelo novo crime, foi condenado a mais de 30 anos de prisão.
Chico cumpriu a pena, mas permanece na Casa de Custódia de Taubaté, a 140 km de São Paulo, graças a uma interdição civil obtida pelo Ministério Público em 1997.

Bandido da Luz Vermelha

João Acácio Pereira da Costa cometia pequenos furtos em Joinville, em Santa Catarina, durante a década de 1950. Pego cometendo os delitos, foi preso. Acácio, porém, conseguiu fugir e veio a São Paulo, onde arrombava janelas e levava objetos de valor. Em uma das abordagens, ocorrida em Higienópolis, encontrou a proprietária da residência dormindo e resolveu acordá-la, para levá-lo até os objetos valiosos. A partir deste crime, passou a invadir residências e, com o auxílio de uma lanterna de luz vermelha, acordar as vítimas. Por conta desse modo de agir, recebeu o apelido de bandido da luz vermelha.
“Bon vivant”, gastava grande parte do dinheiro que conseguia nos assaltos com mulheres e bebidas. Conquistou o coração de diversas jovens nos bares em que frequentava em Santos, cidade onde vivia.
Além da lanterna, Acácio usava, durante os assaltos, um lenço sobre o rosto. Apesar disso, descuidou-se ao deixar impressões digitais em várias casas em que assaltou. A Polícia Civil levantou, por meio das digitais, a identidade do criminoso. Em julho de 1967, foi preso em Curitiba, no Paraná.
Durante interrogatório, confessou a morte de quatro homens. Ele foi condenado a mais de 300 anos de prisão pelos assassinatos, por 77 assaltos e sete tentativas de homicídio. Após cumprir a pena máxima de 30 anos, foi solto em 1997. Voltou a Joinville, sua cidade natal. Quatro meses após a libertação, envolveu-se em uma briga com um pescador. No confronto, levou um tiro de espingarda na cabeça e morreu.

Meneghetti

Considerado um ladrão nato, o italiano Gino Amleto Meneghetti chegou a São Paulo em 1913, após fugir das polícias italiana e francesa. “Ele era o ladrão romântico, conhecido como o homem dos pés de mola por sua facilidade em escalar muros”, disse a curadora Armenui Herbella.
O homem furtava compulsivamente. Mas o crime mais grave a ele atribuído foi matar um delegado em 1926 –crime pelo qual foi condenado a 25 anos de prisão. Em 1945, conseguiu liberdade condicional.
Durante o tempo em liberdade, continuou a prática de crimes. Muitas vezes foi detido e libertado. Em 1966, a Prefeitura de São Paulo tentou dar um rumo à vida de Meneghetti doando a ele uma banca de jornais no Centro da cidade. A boa ação, porém, não deu certo e o criminoso, então com 90 anos, foi pego tentando invadir uma casa pelo telhado.
 idade o livrou da cadeia. A última vez em que foi flagrado aconteceu quando ele tinha 92 anos: em Pinheiros, ele tentou arrombar a porta de uma casa. Seis anos depois, o “homem dos pés de mola” sofreu um mal súbito e morreu. A seu pedido, foi cremado no Crematório da Vila Alpina.

Glauco

Na madrugada de 12 de março, o estudante Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, o Cadu, de 24 anos, foi até a sede da igreja Céu de Maria, em Osasco, na Grande São Paulo, para conversar com o cartunista Glauco Villas Boas. Além de se dedicar aos quadrinhos, Glauco fundou no terreno de sua casa a igreja adepta do uso do chá alucinógeno ayahuasca –mais conhecido como Santo Daime.
Segundo a Polícia Civil, o rapaz recebeu carona de um amigo, o também estudante Felipe de Oliveira Iasi, de 23 anos. Armado com uma pistola e 70 balas, Cadu rendeu o cartunista e o ameaçou. Após conversar, o filho do cartunista, Raoni, de 25 anos, chegou da faculdade e discutiu com Cadu. O rapaz armado, então, disparou contra pai e filho e fugiu. Os dois morreram.
Durante dois dias e meio, o jovem ficou escondido até que, no dia 14, ele roubou um carro na Vila Sônia e dirigiu até Foz do Iguaçu, no Paraná, onde trocou tiros com policiais que tentaram interceptá-lo. Após o tiroteio, ele foi preso e levado à sede da Polícia Federal da cidade, onde permanece em uma cela, isolado.
Em depoimento, o jovem afirmou que o plano inicial era sequestrar Glauco e levá-lo até sua mãe. Ainda de acordo com a polícia, o suspeito disse que, para ele, Glauco era um representante de São Pedro. O cartunista também deveria dizer para a mãe do rapaz que seu filho era Jesus Cristo.
O jovem aproveitou o depoimento para inocentar o amigo. Felipe afirma que foi rendido e obrigado a dirigir até a casa de Glauco. Antes dos tiros, ele teria aproveitado para fugir. A polícia, porém, continua investigando a participação de Felipe.
Segundo Cadu, a decisão de matar Glauco e Raoni foi tomada quando o amigo fugiu da chácara. Nesse momento, o suspeito achou que a polícia seria chamada, atrapalharia os planos e ele seria morto. A investigação do caso continua.

Caio Pimenta Neves

Jornalista matou a nmorada. Está em liberdade.

Toninho do PT

2001, Prefeito de Campinas é encontrado morto.

Sequestro de Washington Olivetto

2001, Publicitário ficou 53 dias em cativeiro.

Celso Daniel

2002,O prefeito de Santo André é morto em sequestro.

Antonio da Costa, o Lacosta

2003, fotógrafo de Época é assassinado trabalhando.

Unaí

MG, 2004, assassinato de fiscais do Trabalho.

Favela da Rocinha

2004, a guerra do tráfico deixa 10 mortos.

Dorathy Stang

2005, missionária é assassinada no Pará.



Assalto ao Banco Central

2005, R$ 150 milhões roubados no Ceará.

Bebê de Pampulha

2006, mãe tentou afogar a filha no lago.

Patrícia Amieiro

2008, jovem desaparece depois de blitz.

Os que me tocam mais porque remontam a minha infância, onde ainda é possível sonhar e ter esperança de um mundo sem violência..

Caso Carlinhos

Quem tem mais de quarenta, guarda as lembranças do caso Carlos Ramires, o menino Carlinhos, após o seu misterioso desaparecimento em 1973.

A esperança familiar é tempestivamente despertada por possíveis candidatos ao título do "filho e irmão" desaparecido em um conturbado rapto na rua Alice. Como a ave mitológica surgida das cinzas, estes "fortes candidatos" aparecem como o Phoenix, representado neste triste episódio.
Quem acompanha esta estória desde a sua origem não pode permanecer indiferente ao mistério que se arrasta teimosamente insolúvel há três decadas.




Caso Doca Street

Doca namorou Ângela por quatro meses e a matou com três tiros no rosto e um na nuca. Poucos meses antes, havia se separado da mulher, Adelita Scarpa, e perdeu a mordomia por ser casado com uma mulher rica, para viver um romance com Ângela.
Uma crise de ciúme de Doca Street iniciou a discussão que precedeu o assassinato de Ângela, em 1976, na casa de veraneio dela, em Búzios (RJ).
 Ângela tivera uma vida marcada por incidentes. Em 1973 foi acusada de ter assassinado o vigia de sua residência, em Minas Gerais. Mas seu companheiro na época assumiu a culpa, alegando legítima defesa. Já no Rio, foi acusada de seqüestro por subtrair os três filhos da casa dos avós do ex-marido, que detinha a guarda deles. E em 1975, foi presa, acusada de esconder caixas de psicotrópicos e 100g de maconha.
Doca cumpriu a pena e, hoje, trabalha em agência de automóveis em São Paulo. Nos dois anos em que aguardou o segundo julgamento e em que ganhou a antipatia do público, ele foi um cidadão com emprego, salário e ajudava a mãe.

Caso Dorinha Duval

Aos 15 anos, ela fora violentada. Três anos mais tarde, passou a prostituir-se por enfrentar dificuldades financeiras e sofreu um aborto. Atriz da Rede Globo (atuou em O Bem Amado), casara-se com o ator e diretor Daniel Filho e fora abandonada por ele. Em seu segundo casamento, com o cineasta Paulo Sérgio Alcântara, viveu uma relação conturbada. A dramática retrospectiva da vida de Dorinha Duval, foi exposta em júri, em 1983, pelo advogado Clóvis Sahione, que defendeu a atriz no processo em que ela era acusada de matar Paulo Sérgio.
Por sete votos a zero, Dorinha foi condenada a um ano e meio de prisão com sursis (suspensão condicional da pena). Três anos antes, Dorinha matara com três tiros o marido com quem estava casada havia seis anos. Dez dias depois, em declaração para a polícia, disse que iniciou com o marido uma discussão no quarto. Ela conta que o procurou carinhosamente e foi repelida. Aos 51 anos, 16 a mais que Paulo Sérgio, a atriz reclamou da atitude e, como mostra o livro, o marido disse que Dorinha era uma velha e que só apreciava meninas de corpo rijo.
Dorinha na delegacia, em 1980: ex-atriz que matou marido foi para a prisão aos 62 anos e, hoje, sobrevive como artista plástica
Dorinha disse que encararia um cirurgia plástica, mas Paulo Sérgio teria respondido: “Você não dá mais, nem com operação”. Para se defender sob argumento de legítima defesa, Dorinha contou que respondeu aos insultos dizendo ao marido que, quando ele precisava de dinheiro, era a ela que ele recorria. E, a partir de então, Paulo Sérgio a teria agredido até que ela pegou o revólver e atirou.
Após a primeira condenação mais branda, Dorinha foi a júri novamente. Acabou condenada a seis anos de prisão em regime semi-aberto. “Dorinha tinha de pagar, já pagou e talvez continue pagando”, diz o ator Paulo Goulart, que foi testemunha de defesa da amiga. “Só lamento que tivesse de modificar toda vida em função de uma tragédia.” Aos 62 anos, ela passou a primeira noite no cárcere, em Niterói (RJ). Dorinha está com 73 anos, é artista plástica, mora no Leme e vive das obras que faz.

CASO AIDA CURI

 



JUVENTUDE TRANSVIADA: O CASO AÍDA CURI


 



A verdade, incontestável, definitiva e sem tergiversações, nunca foi realmente esclarecida; o fato em si chocou o Brasil inteiro, tornou-se um caso célebre e colocou em evidência dois termos que nunca mais saíram do imaginário coletivo dos brasileiros: “Curra” e Juventude Transviada”, este último querendo significar gangs formadas por jovens de classe média, um fenômeno recente na cidade do Rio de Janeiro, e título de um filme que imortalizou o ator James Dean – morto em um acidente com um Porche pouco tempo antes (setembro de 1955) –, filme esse que, junto com mais dois títulos – O Selvagem (direção de Lázló Benedek, 1953), protagonizado por outro rebelde, Marlon Brando, e Sementes de Violência, (direção de Richard Brooks, 1955), com Glenn Ford e um iniciante negro que se tornaria, mais tarde, um superstar ganhador de um Oscar como Melhor Ator, Sidney Poitier, famoso filme por conter em sua trilha sonora o clássico Rock Around the Clock, com Bill Halley and the Comets –, foi o pontapé inicial para uma mudança radical no comportamento da juventude em todo o mundo.
Noite de 14 de julho de 1958. Cidade do Rio de Janeiro. Bairro de Copacabana. Avenida Atlântica n.º 3.888, Edifício Nobre. Esses os dados factuais que ficariam na história.
 Aída Curi, uma jovem de 18 anos (ou 23anos), tão logo termina seu curso de inglês na Cultura Inglesa (também disseram que,na realidade ela era estudante de datilografia), andando a pé pela rua Miguel Lemos, acompanhada de uma amiga, Ione Arruda Gomes, começa a ser paquerada por dois rapazes de boa aparência, “boa pinta” como então se dizia (ou somente por um, segundo outras informações). Um dos rapazes se chamava Ronaldo Guilherme de Souza Castro, natural do Espírito Santo, ora estudando no Rio de Janeiro, de 19 anos, com pinta de galã de cinema francês, que usava um irresistível par de óculos escuros, dando-lhe um ar de playboy queseduzia diversas garotas no aprazível bairro de Copacabana. O suposto acompanhante do conquistador era Cássio Murilo Ferreira, que depois se saberia menor de idade (17 anos). Os rapazes então convidam a ingênua mocinha (recém saída de um colégio de freiras) para (aqui as versões divergem, aliás, como quase tudo a respeito desse assassinato) aprender algumas palavras em inglês, ouvindo um Long Playing com sucessos americanos da época, ou só para ouvir músicas em um apartamento de um amigo, pertinho dali, na avenida Atlântica. Também se disse que, na realidade, ela fora convidada para ver a praia do terraço do prédio. Nunca ficou exatamente claro como uma garota que estudava à noite, esclarecida, mesmo que ingênua, tenha aceitado o convite de estranhos para acompanhá-los a um apartamento ou mesmo ir até o terraço de um edifício assim, sem mais nem menos. O que se especulou é que ela, obviamente impressionada com a educação do rapaz e com sua aparência de bom moço, aceitou o convite, dirigindo-se para o edifício acima mencionado.

Acontece que o amigo mencionado pelos rapazes não es encontrava em seu apartamento. Cássio Murilo então teria sugerido que ambos fossem para o terraço do prédio apreciar o panorama noturno da cidade. Cássio tinha a chave (depois se disse que a mesma lhe fora dada pelo porteiro, que, mais tarde informou à políciaque o “de menor” tinha o costume de arrombar a porta de acesso ao terraço) que permitia o acesso ao espaço por ser sobrinho (ou enteado) do síndico, um coronel do DOPS, o coronel Adauto. A partir desse momento, a maioria dos relatos está envolta em meias verdades, dissimulações, mentiras e falsidades.

O certo é que os dois jovens subiram com Aída Curi para o terraço, com o porteiro também subindo e se escondendo por cima da caixa d’água – um triste voyer – e começaram a importunar a garota. Atônita, ela começou a resistir ao assédio, procurando fugir. Após pouco tempo, um corpo estava estendido no chão da Avenida Atlântica. A jovem fora jogada ou se jogara do edifício para escapar à curra dos “transviados”.

Poucos dias depois do início das investigações, a polícia, com o delegado do 12º Distrito Policial à frente das investigações, chegou aos dois jovens. Também se disse que eles se entregaram após confessar a tragédia (a garota teria pulado do terraço) ao padrasto de Cássio, o coronel Adauto, que os levou à delegacia. Especulou-se então que, após a morte da garota, eles chamaram o coronel (amigo do chefe da polícia, general Amaury Kruel, segundo se apurou) e, para esconder o crime, a solução foi jogá-la terraço abaixo. A imprensa, no início, considerou o crime como mais um trágico acontecimento, quase rotineiro, que, de vez em quando, abalava o popular bairro de Copacabana. No entanto, quando se soube que dois jovens de classe média eram os suspeitos do crime, as redações são tomadas de assalto e um ritmo frenético toma conta dos repórteres policiais. Inicia-se então um busca vertiginosa sobre os antecedentes da vítima e de seus supostos assassinos. Reportagens espetaculares com detalhes do crime e dos criminosos são publicadas nas revistas semanais, principalmente no O Cruzeiro, primeiro pelo repórter Arlindo Silva, seguido, mais tarde, pelo virulento David Nasser, que assumiu, quase como uma missão sagrada, a defesa da mocinha e a demonização dos jovens supostos assassinos.

Os leitores então começaram a conhecer os personagens da tragédia e a realidade que os cercava. Aída Curi foi apresentada como um doce garota, muito religiosa (antiga aluna de um colégio de freiras), ótima aluna, nota dez em quase todas as matérias e em todos os anos, vários prêmios na escola, caseira, que gostava de tocar piano, estando, nos últimos tempos, estudando para um concurso para o IPASE (Instituto de Previdência e Assistência Social dos Servidores do Estado), uma autarquia criada em 1938 encarregada de gerir os recursos oriundos das contribuições dos servidores e da União, destinadas ao custeio de diversos benefícios: pensão vitalícia para o cônjuge sobrevivente; pensão para os filhos até a idade de 22 anos; pecúlio; seguro de renda e seguro de morte. Um bom emprego e um futuro promissor para uma jovem bonita, inteligente e estudiosa.

Cássio Murilo foi apontado como o protótipo do bad boy. Era um desocupado, já tinha sido expulso do Ginásio do Alferes por comportamento indigno (não ficou claro que comportamento era esse). Também fora expulso de outro colégio por tentar levantar as saias das garotas e já teria arrombado a porta de um prédio vizinho ao que morava para roubar uma motoneta. Muitos o comparavam com o ator norte-americano Sal Mineo, jovem astro em ascensão, e um dos protagonistas exatamente do filme Juventude Transviada (direção de Nicholas Ray, 1955), que lançara o rebelde James Dean definitivamente ao estrelato. Sal Mineo foi assim descrito por um repórter da revista Manchete:
“Com um rosto de garoto mau, cabeleira preta, pastosa e desarrumada e trajes displicentes, Sal Mineo personificou a caráter o tipo transviado... Depois de cada filme de Sal Mineo, os transviados saem do cinema andando e agindo como se fossem ele e ficam, depois, diante do espelho, estudando o meio de mais se parecerem com ele”.
Entretanto, não era somente Sal Mineo o único acusado pelo fenômeno alienígeno da juventude transviada: também, como vimos, eram mencionados Elvis Presley, Marlon Brando, Bill Haley, Little Richards (cujo recente sucesso, Tutty Frutty, incendiava as festinhas da moçada), James Dean e o próprio rock and roll. Todos eram vistos com desconfiança pela população em virtude do uso de blusões de couro (quando podiam, já que o produto era relativamente caro), pelas camisas vermelhas, pelos “blue Jeans” (calças de brim que estavam virando febre no meio da juventude), por mascar chicletes e pela dança escandalosa do rock. Todos também queriam usar as possantes motocicletas mostradas nos filmes norte-americanos, mas, pelo baixo poder aquisitivo dos jovens tupiniquins, a maioria se contentava com as lambretas, outro item obrigatória na persona “transviada”.
De Ronaldo, se disse tudo sobre sua vida pregressa; não obstante pertencer a uma boa e tradicional família, também não era flor que se cheirasse: fora expulso de colégios, acusado de diversas agressões e de ter participado do roubo de um carro pertencente à Secretaria de Agricultura. Também fora preso por indisciplina quando servira no Exército e coisas semelhantes. Viera do Espírito Santo para estudar no Rio de Janeiro e se extraviara do bom caminho. Do porteiro Antônio João de Sousa, pouco se levantou, obviamente por ser pobre e sua vida ser desinteressante para a mídia, apesar de ser acusado com a mesma virulência.
Acuadas pela imprensa, e após a decretação da prisão preventiva dos três acusados pelo juiz Astério Aprígio Machado de Melo, as forças policiais iniciaram uma violenta caçada a todos os jovens da cidade identificados com a juventude transviada; o simples fato de andar de lambreta, ou possuí-las, já identificava os jovens cariocas como maus elementos e sujeitos a serem presos para averiguação. Todos os pontos de encontro da juventude começaram a ser vítimas de “blitzes” pela polícia, que, numa cruzada moralista, cercava ruas e praças e invadia as boates e inferninhos que pululavam por toda Copacabana.

Em uma blitz no Snack Bar, um ponto então na moda, foram presos 66 jovens dos dois sexos, todos levados à delegacia; aliás, o Snack Bar era vítima constante das batidas; na Galeria Alaska, que já possuía péssima fama como ponto de encontro de jovens “transviados” e “maconheiros” (sim, a maconha já estava presente nos círculos freqüentados pelos jovens de classe média do Rio de Janeiro), a polícia prendeu 40 pessoas, muitos menores de idade, que foram enviados para a Delegacia de Menores. Na também boate Katacombe, reduto de jornalistas, boêmios e socialites, onde foi flagrada uma menor, os donos protestaram contra a batida, terminando por serem presos por desacato e arrastados aos solavancos para o camburão. E assim, praticamente todas as casas noturnas da cidade ficaram à mercê das batidas policiais, não escapando nem os inferninhos, nem as mais requintadas como a Balalaika, o Baccará (onde cantavam Dolores Duran e Helena de Lima), a Magriffe, o Little Club, o Ciro’s, o Clube 36, o Texas Bar, o Farolito, a famosa casa noturna Drink, do homem da noite Djalma Ferreira (que lançou ao estrelato o cantor Miltinho), a Arpège e muitas outras.
A princípio, população de maior poder aquisitivo, principalmente a classe média alta apoiava integralmente as operações, considerando-as um meio de “limpar” a cidade contra os “maus elementos”. Porém, a partir de determinado momento, com a conseqüente prisão de diversos integrantes de seu meio social, entre eles vários universitários, e de inocentes nessas batidas, setores da classe média começaram a criticar a atuação e a arrogância da polícia, denunciando maus tratos e prisões sem a devida atenção às normas jurídicas. Pressionada, não demorou e a polícia foi obrigada a paralisar suas operações.

A imprensa também levantou as gírias inventadas pela garotada: “vou lhe dar um banho de lojas”, significava fazer com que a garota se vestisse melhor; “abotoar o paletó” queria dizer matar alguém; “vou limpar minha sola” era pisar o cuspo para dizer que xingou a mãe de um desafeto. “Me dá uma lourinha”, gíria que permanece até hoje, era pedir uma cerveja; “trocar biquinhos” queria dizer beijar e assim por diante. Os jovens eram acusados de usarem uma linguagem cifrada para não serem entendidos pelos mais velhos e pela polícia, o que até hoje é um fato verdadeiro.

Em virtude da implacável perseguição policial, os jovens iniciaram uma verdadeira peregrinação pelos mais diversos pontos da cidade do Rio de Janeiro; geralmente, antes do início das batidas policiais, o ponto de encontro favorito dos jovens era a Praça do Lido, em Copacabana, no Posto 2; após as perseguiçõesiniciais, muitos mudaram para as imediações do Snack Bar, no Posto 6, também ponto de encontro dejornalistas e intelectuais. Com as batidas e as prisões de menores, os mais corajosos começaram a freqüentar a Barra da Tijuca,então um longínquo e ermo local do Rio de Janeiro, imortalizado no ano anterior pela marcha carnavalesca, que se tornou premonitória, Vai com Jeito, de Braguinha, gravada por Emilinha Borba e a grande vencedora do carnaval do ano anterior (“Se alguém te convidar/Pra tomar banho em Paquetá/ Pra piquenique na Barra da Tijuca/Ou pra fazer um programa no Joá/Menina vai/Com jeito vai/ Senão um dia/A casa cai.”)

Em agosto, saiu o laudo pericial que indicava que a jovem teria sofrido torturas antes de ser subjugada. Segundo esse laudo, havia
“escoriações e equimoses provocadas por unhadas e socos. No peito, no lado esquerdo, aparecem sinais de profundas unhadas. Arranhões nas coxas, ventre, pescoço e equimoses no abdômen. Houve ruptura interna do lábio superior devido a um soco. Tentativas de estrangulamento. Sinais de bofetão no queixo. Marcas nos braços, antebraços, punhos e dorso das mãos (significando ‘ferimentos de defesa’). Algumas marcas no tórax que podiam ser conseqüência de mordida”.
O médico legista, Mário Martins, disse à imprensa acreditar que, após lutar com seus agressores, a vítima deve ter perdido as energias e desfalecido. Tinha a convicção de que ela estava viva quando caiu devido a infiltrações de sangue pelos tecidos do lado direito do corpo, fato que não ocorreria se o coração estivesse sem ação. Ele também, após conferenciar com o promotor e o delegado encarregados do caso, disse à imprensa que “Aída, desfalecida, foi atirada, e parte das escoriações foram produzidas por atrito do corpo nas arestas e bordas do parapeito do terraço”. Disse ainda que todos suspeitavam de que ambos os acusados teriam participado do ato de atirar a jovem do alto do terraço.

Nesse meio tempo, a “canonização” de Aída continuava a pleno vapor pela imprensa, ao lado de uma cruzada pela moralização dos costumes e para a repressão dos ambientes propícios à “perdição” da juventude carioca. Dom Helder Câmara, arcebispo auxiliar do Rio de Janeiro, chegou a comparar a morte da jovem com a da santa da igreja católica, Maria Goretti. Diria também dom Helder:
“Mais uma vez se comprova que os transviados são conseqüência tanto da miséria extrema como do superconforto. Não é por acaso que eles aparecem de preferência entre filhos de favelados e de família da alta sociedade. São vítimas de um clima que ajudamos a criar ou que não ajudamos a modificar, realmente. Todas as marcas no corpo de Aída (da mártir, podemos dizer) revelam o que dão a saturação e a supersaturação sexual em que se movimentam a infância e a adolescência das grandes cidades. Se o doloroso aviso da morte de Aída servir para abrir os olhos de todos nós, responsáveis, abençoado o holocausto da jovem mártir."
Na reconstituição do crime, feito sob severa proteção da polícia já que a multidão queria linchar os acusados, o que se viu foi um festival de acusações, cada um querendo livrar sua cara. Em determinado momento, Ronaldo disse ao suposto cúmplice: “Você, Cássio, não sente o crime que cometeu aqui mesmo neste local, porque você não é humano e não pode ter remorso”. Todos, porém, tiveram a mesma convicção: Ronaldo Guilherme era um exibicionista e bastante cínico. O jovem Cássio Murilo impressionava pela frieza diante dos fatos a que era exposto. Os jovens e o porteiro foram denunciados por homicídio doloso, tentativa de estupro e atentado violento ao pudor.

Só que, em fevereiro de 1959, numa atitude consideradasurpreendente, Ronaldo Guilherme foi impronunciado pela justiça, ou seja, considerado inocente de todas as acusações. Em entrevista à Rádio Continental, o juiz Sousa Neto se pronunciou sobre o acontecimento:

 “Está provado no processo que Ronaldo foi com Aída ao terraço do Edifício Nobre para um ligeiro romance com pleno conhecimento de Aída. Lá no terraço houve uma divergência entre os dois, porque Aída não queria ir até o fim do romance, desejava, como já disse na sentença de impronúncia, limitar-se aos prefácios do amor, enquanto Ronaldo desejava ter com ela uma plena conjunção carnal. Ronaldo se aborreceu, ficou decepcionado e deu um ligeiro tapa em Aída (...)

Ainda segundo o juiz, Ronaldo teria se afastado do prédio às 08h15min horas, conforme “prova incontroversa”, não podendo ter participado do triste acontecimento.

Aparece então em cena, com mais virulência e entusiasmo, o jornalista da revista O Cruzeiro, David Nasser. Inicia ele uma campanha feroz contra a decisão de Sousa Neto, mobilizando a opinião pública contra a decisão da justiça, no que foi acompanhado por outros órgãos da imprensa. Em poucos dias, pressionado, o Conselho de Justiça anulou o impronunciamento de Ronaldo, que teve de voltar às grades, apresentado ao delegado de Vigilância por seu advogado, Wilson Lopes dos Santos. Um fato, no entanto, unia defesa, acusação: o inquérito fora deverasmente mal instruído durante a fase policial, dirigida pelo delegado Waldir de MatosDias. A própria promotoria que havia recorrido da decisão do juiz, concordou que havia grandes falhas no processo, que, segundo ela, deixara escapar vários nomes imprescindíveis ao trabalho da acusação.

Presidido pelo juiz Otávio Pinto, no mesmo mês de fevereiro, finalmente iniciou-se o julgamento dos três acusados. A defesa de Ronaldo sustentava a tese de negativa de autoria, argumentando que Aída pulara do terraço. Após 32 horas daquele que foi considerado pela imprensa como “um dos mais dramáticos da história do Tribunal do Júri”, saiu a sentença: 37 anos para Ronaldo e 30 anos para o porteiro João. Cássio, considerado até pelo juiz do caso como o verdadeiro assassino, não pôde ser julgado por ser menor de idade.

O resultado causou verdadeira comoção no público presente à sala de julgamento e na multidão que esperava o veredicto nas imediações do fórum. O delírio foi quase que unânime, Ronaldo saindo do recinto aos gritos de “assassino!...assassino!”. Possesso, ele se dirigia ao corpo de jurados, xingando-o de covarde e vendido. Na realidade, devido à campanha da imprensa, o fim não poderia ser outro. O réu já estava condenado de antemão.

Poucos dias após o veredicto, a imprensa fica de novo assanhada: aparece uma testemunha já mencionada por Ronaldo Guilherme, a famosa “testemunha de preto”, que, segundo o acusado, poderia livrá-lo das acusações e que nunca aparecera. Seu nome era dona Lecy Gomes Lopes e se dizia arrependida por ter se mantido calada durante todo o episódio. Segundo dona Lecy, ela tinha o hábito de passear à noite, entre as 19h00min e 21h00min horas; como de costume, após andar um pouco, acompanhada da filha e da empregada, ela se sentou em um banco na orla da praia, onde se encontrava um casal em situação amorosa. Lembrava-se de ter achado o rapaz bem apessoado e, pelo teor da conversa entre o casal, também bastante educado. Repentinamente, todos vêem um ajuntamento nas imediações do edifício Nobre. Ronaldo teria se levantado e se dirigido para o local, voltando pouco depois relatando o acontecimento.

Entretanto, para sua surpresa, ela viu nos jornais, poucos dias depois, para sua surpresa e de sua filha, a foto de Ronaldo e descobriu que ele estava sendo acusado do crime. Entretanto, por medo de ser envolvida, já que era viúva e com filhos, resolveu ficar calada e acompanhar os acontecimentos. Segundo ela, o remorso a acompanhava, mas a apreensão era mais forte e ela aguardaria o resultado do julgamento para decidir o que faria.

Quando saiu o resultado, entrou em depressão, o remorso ficando mais forte. Começou a ser pressionada pelos filhos e parentes para contar o que sabia, o que realmente fez para alívio de sua consciência. Essa era a verdade, e ela estava pronta para depor a favor de Ronaldo Guilherme no novo julgamento que aconteceria dentro de poucos dias, porquanto a defesa do réu recorrera da sentença de 37 anos.

O novo julgamento, acontecido no mês de março de 1959, já demonstrava uma alteração nas expectativas da população. Em virtude do depoimento de dona Lecy e de diversas reportagens na imprensa que colocavam em dúvidas certezas antes estabelecidas, o comportamento da massa já não era tão agressivo. Aliás, o depoimento da nova testemunha causou espécie no corpo de jurados, já que havia contradição entre o que ela colocara e o depoimento de Ronaldo. Dona Lecy dissera que Ronaldo se encontrava no banco da praia quando ela chegou ao local. Já em seu depoimento, Ronaldo dissera que, um pouco antes do corpo cair do edifício, ele se assentara no banco onde a testemunha já estava presente. O fato de os depoimentos serem contraditórios, foi explorado por ambas as partes. A acusação o usava para dizer que isso demonstrava que tudo era mentira. Já a defesa argumentava que a contradição era a prova cabal que não houvera prévio entendimento entre o acusado e a testemunha.

O depoimento da perícia, também, ajudou Ronaldo Guilherme. Pressionado pelo advogado de defesa, o perito teve que admitir que a marca no rosto de Aída – uma peça importante da acusação –, poderia ter sido provocada por esmagamento do corpo contra a parede do prédio. Ele ainda afirmou que não pôde ser comprovada marcas de dentes nos seios da jovem, como anteriormente fora dito pela imprensa. E um fato que causou grande impacto perante os jurados – as roupas ensangüentadas e rasgadas de Aída apresentadas pelo promotor, além de um lenço também manchado de sangue – por seu turno, foi considerado de pouca importância pelo perito, que esclarecera que as peças foram anteriormente cortadas a bisturi pelos médicos que precisavam enviar pedaços de tecidos para o laboratório para análise. Além do mais, Ronaldo já havia dito que a saia de Aída Curi fora rasgada quando, no terraço, ele tinha batido nas mãos de Cássio para que ele a largasse. Devido à pressão, a saia se rasgara. Essa era a explicação.

Em completa contradição com o que acontecera poucos dias antes, Ronaldo Guilherme, dessa feita, foi absolvido por seis votos contra somente um, ouvindo a sentença, proferida pelo juiz Talavera Bruce, de cabeça baixa, mas sem deixar de demonstrar um meio sorriso de satisfação. Saiu da sala de julgamento sob aplausos dopúblico, a maioria moças e rapazes na casa dos vinte anos. Saiu como herói. Antônio João de Sousa, o porteiro, também foi absolvido.

Após o resultado, a imprensa iniciou as especulações dos motivos da absolvição; o brilhantismo da defesa, a cargo de Romeiro Neto, foi considerado fator essencial do resultado favorável a Ronaldo. Dona Lecy dissera à imprensa que, no seu entendimento, dessa feita houve boa vontade dos jurados em virtude das revelações dos novos fatos, como as especulações de parte da imprensa que agora dizia que Ronaldo não poderia ter matado a jovem por ter sido visto em um bar pelo jornalista Luís Mendes mais ou menos na hora do crime.

O jornal Correio da Manhã, no dia seguinte ao julgamento, estampou editorial em que estranhava a absolvição de Ronaldo, mostrando sua perplexidade frente aos resultados opostos das duas decisões do corpo de jurados:

“O caso dos dois julgamentos de Ronaldo de Souza Castro, no Tribunal do Júri, dá que pensar. Dá que pensar na instituição do Júri no Brasil. É estranhável essa instituição que, funcionando duas vezes, uma quase em seguida à outra, conclui da primeira que um réu merece por crime de homicídio 25 anos de prisão, e da segunda que deve ser absolvido. Ronaldo que fora condenado a 37 e meio anos de prisão (os restantes por atentado violento ao pudor e tentativa de estupro) fica apenas com as penas por crime sexual agora. É verdade que o promotor vai apelar para novo julgamento, agora para o Tribunal de Justiça, e conforme forem as coisas, Ronaldo poderá voltar ainda ao Júri que sabe Deus o que fará.
Este jornal, examinando o horrendo assassínio de Aída Curi, desde o início do caso, firmou sua opinião de que o desfecho, o homicídio propriamente dito, era culpa de Cácio Murilo, que no primeiro Júri foi acusar Ronaldo, embora não possa ser julgado por ser menor... Exculpar Ronaldo (e o porteiro Antônio João) de colaboradores de Cácio mesmo no homicídio, parece-nos, porém, falsear o papel da Justiça. A Justiça é cega a influências estranhas, a suborno, a impactos emocionais injustificáveis. Não é cega à conformação geral de um crime.
Ronaldo, que agrediu Aída, tentou violentá-la e a abandonou lívida de pavor à sanha do seu sinistro cupincha Cácio, é também culpado de homicídio. Não no mesmo grau daquele que, ao que tudo indica, empurrou a vítima do alto do edifício, mas como cúmplice. Se virmos alguém afiar uma faca e passá-la a outro para que cometa um assassínio, não vamos concluir que exerceu um simples papel de amolador de facas. Tirar Ronaldo, por completo, do quadro do homicídio de Aída Curi parece-nos um insulto ao senso de humanidade de nós todos - e ao próprio bom senso.
Mas que dizer do Júri, que parece funcionar no Brasil ao sabor de todos os ventos? Que houvesse diminuído a pena de Ronaldo compreenderíamos. Mas apagá-la por inteiro? Passar de 25 anos, um quarto de século, a zero, em pouco mais de um mês?
A idéia do Júri é a de submeter um acusado ao juízo de seus, concidadãos, chamados a opinar sobre os fatos do caso, e apenas sobre os fatos, mas de um ponto de vista mais geral do que o da Justiça togada. Será que, no Brasil, os males de uma meia educação da qual estamos ainda longe de nos livrar é que se reflete no Júri de forma tão desapontadora? Num país como o nosso onde felizmente não existe pena de morte não se justifica a brandura, quase a moleza com que o Júri absolve criminosos medonhos. Por isso mesmo existe entre nós, uma grande e responsável corrente de pessoas contra o Júri: temem que essa moleza nos leve, por uma reação, à pena capital.
O segundo julgamento desse Ronaldo coloca mais uma vez o Júri em situação estranha. Assim como o caso, mais terrível ainda, do seu cúmplice e agora inimigo Cácio (como no cinema os “gangsters” quando apanhados, sempre se acusam mutuamente) coloca em xeque nossa concepção penal do menor. A Justiça no Brasil precisa de uma remodelação. No passo em que vamos, estamos abrindo caminho para os que desejam o pior: a pena de morte, para que no Brasil a vida não continue a ser um objeto tratado com tanto desdém pelos Cácios e Ronaldos.

Por seu lado, a revista O Cruzeiro, nunca se conformou com o veredicto. Continuou investigando o caso e publicando reportagens contra Ronaldo ao longo dos meses seguintes. Em 2 de abril de 1960, por exemplo, podia-se ler na prestigiosa revista a seguinte reportagem:
Aída Curi morreu duas vezes. A primeira foi há 20 meses, quando os monstros curradores a atiraram do alto do edifício Nobre à calçada. A segunda foi agora, quando o júri espezinhou a sua memória, absolvendo um criminoso da laia de Ronaldo Guilherme de Souza Castro. O júri salvou o tarado currador, mas, ao mesmo tempo, morreu no conceito público como instituição de justiça. A absolvição desse asqueroso Ronaldo veio demonstrar que justiça nesta terra parece que ainda tem de ser feita com as próprias mãos. Graças a Deus que as palmas batidas na hora em que o Juiz pronunciou a sentença absolutória partiram de blocos de rapazes e moças transviados, que agora têm em Ronaldo o seu ídolo e o seu patrono.

Em São Paulo, durante um baile em que se dançava “rock'n'roll”, meninas e molecotes gritaram “Ronaldo! Ronaldo!”, no instante em que lá chegou a notícia de que o matador de Aída conseguira escapar às garras curtas da Justiça. Mas, em compensação, no seio das famílias brasileiras, em todos os rincões deste País, mães e pais, avôs e avós, filhos e filhas de alma pura e boa formação, quedaram-se estupefatos e baixaram os olhos desolados, porque acabava de ser oficializada a curra no Brasil.

De agora em diante, as mães de família devem ensinar a suas filhas a arte de manusear revólveres, porque só assim poderão fazer justiça aos Ronaldos que andam soltos por aí - e que, de agora em diante, hão de proliferar como erva daninha. Agora, a ninguém é lícito esperar justiça de um júri como esse, que desprezou as provas do processo para absolver um monstro cínico como Ronaldo.

Disse o Promotor Maurílio Bruno que correu um mar de lama por baixo do processo Aída Curi. E, nele, muita gente mergulhou para soltar “testemunhas-bomba” e perturbador o curso normal da Justiça. Doravante, só os criminosos vulgares, os assassinos das favelas, os “Carnes-Secas” e os “Cabeleiras” continuarão temendo a Justiça. Os Ronaldos continuarão seguros da impunidade. A verdade é dolorosa, mas deve ser dita: condenar criminoso rico, por mais que se trabalhe no sentido de defender a sociedade, é tarefa das mais difíceis.

Em tudo isso, há fatos que nos deixam boquiabertos. Um dos jurados que absolveram Ronaldo é pai de uma jovem que, há pouco tempo, quase foi currada. Para defender a filha, esse jurado agrediu o autor do atentado e foi defendido na Justiça pelo Dr. José Valadão, advogado da família de Aída Curi. Pois esse jurado foi dos que mais batalharam pela absolvição do monstro de óculo escuros! Por aí se pode imaginar que tramas teriam sido urdidas nos bastidores do julgamento desse verme humano que se chama Ronaldo. Provas existem de sobra, no processo, para condenar Ronaldo, Cácio (sic) Murilo e o porteiro. Mas, em vez de ouvir a leitura dessas provas, vários jurados dormiram e roncaram durante a sessão. Se não fosse proibido fazer fotografias em plenário, poder-se-ia ter documentado, fartamente, jurados comunicando-se entre si e até mesmo um deles trocando palavras com o Dr. Romeiro Neto, advogado de defesa. Uma só dessas fotografias seria suficiente para anular o julgamento.e

Como desfecho do caso Aída Curi, houve ainda um terceiro julgamento, cujo resultado pode ser entendido como um meio termo entre os dois anteriores: Ronaldo foi julgado por homicídio simples e tentativa de estupro e pegou uma pena de seis anos. Após recorrer da sentença, o promotor Pedro Henrique Miranda conseguiu que a pena fosse aumentada para oito anos e nove meses. Depois, depois, após ser solto, Ronaldo se tornaria empresário em seu Estado, o Espírito Santo.

Cássio Murilo, por ser menor e inimputável, foi encaminhado ao Sistema de Assistência ao Menor (SAM), de onde saiu direto para prestar o serviço militar. Alguns anos depois, ele seria acusado de ter matado um vigia de automóveis, fugindo para o exterior até que a pena pelo assassinato fosse prescrita.
O porteiro Antônio João de Sousa, após ser absolvido no segundo julgamento, não participou do terceiro julgamento; nunca mais foi visto, desaparecendo para sempre, um mistério que perdura até hoje. E o caso Aída Curi permanece até hoje no imaginário popular brasileiro como um dos mais célebres crimes da história do Brasil.