sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O roubo da cabeça do Tiradentes

Todos conhecem a história da Inconfidência Mineira e seu trágico final. Nosso relato se restringe ao destino da cabeça de Tiradentes.

Depois de morto por enforcamento, ele teve seu corpo esquartejado e colocadas as partes nos locais por onde ele havia passado e falado de suas idéias de liberdade. Era a resposta do governo. Que ninguém mais ousasse se levantar contra a rainha de Portugal! A cabeça, troféu maior, foi salgada, levada para Vila Rica e colocada em uma gaiola presa numa estaca. Era o dia 12 de maio de 1792. No centro da Praça de Santa Quitéria, hoje Praça Tiradentes, ela deveria ficar até que “o tempo a consuma”.

Esse fato ocorreu com grande aparato. Tropas de Dragões se postaram enfileiradas, impondo a ordem e dando um caráter oficial ao evento. O povo se amontoava a certa distância para ver o horrível espetáculo. Na Câmara Municipal os políticos proferiam discursos exaltando Sua Majestade e maldizendo o “traidor” Tiradentes, que recebera um castigo merecido. Que isto sirva de lição a outros subversivos que ousarem se voltar contra nossa querida rainha D. Maria I!

E assim se passou. Amaldiçoado pelas autoridades, olhado com temor e admiração pelo povo, Tiradentes cumpriu a sua sina. À tardinha, todos se recolheram às suas casas, e a praça se esvaziou por completo.

À noite, ninguém costumava sair, pois a luz dos lampiões era muito fraca e todos tinham muito medo de bandidos, assassinos ou até mesmo de almas penadas. Tudo era silêncio na Praça de Santa Quitéria. Não havia viv’alma por ali. Apenas uma neblina baixa passava lenta, tapando a pouca visão da praça.

Pois nessa fria e escura madrugada a cabeça do Tiradentes foi roubada e escondida em algum lugar onde ninguém jamais a encontrou. Livrou, dessa forma, o alferes da desgraça de ter sua cabeça apodrecendo, em plena praça pública.

Alguns dizem que a cabeça foi embalsamada e colocada numa urna de pedra hermeticamente fechada depois de ser preenchida totalmente com ouro em pó e enterrada em local desconhecido.

Outros dizem que a cabeça foi roubada por um monge. Ele a guardava numa caixa e retirava de vez em quando para meditar diante dela. Meditação sobre a vida e a morte.

Uma terceira versão diz que Tiradentes tinha uma admiradora que, aproveitando-se da confusão estabelecida na praça, sumiu com a gaiola. Sua escrava ficou distraindo o soldado, que era o seu guardião, dando-lhe cachaça para beber. O destino dela ninguém sabe dizer.

A cabeça original nunca apareceu, mas uma réplica surgiu na Praça Tiradentes, dentro de uma gaiola, sobre um poste, 200 anos depois. Foi quando se homenageou, nessa data, o herói nacional e patrono da Polícia Militar mineira, Tiradentes.

As autoridades planejaram uma festa à altura. Tropas de Dragões saíram a cavalo do Rio de Janeiro pela Estrada Real e foram se revezando pelo caminho.  Homens e cavalos eram trocados até chegarem a Ouro Preto, onde os festejos em praça pública aconteceriam.

A escola de arte local havia providenciado réplicas em gesso do corpo do Tiradentes e da sua cabeça. As partes, braços e pernas foram colocados em pontos estratégicos de todo o centro da cidade. Eram tantas que dariam para formar uns sete corpos. A intenção era impressionar. Pintaram com tinta vermelha nos lugares dos cortes e a tinta fresca ainda pingava pelo chão dando a impressão terrível de ser sangue.

A cabeça foi colocada numa gaiola sobre um poste fincado no centro da Praça Tiradentes bem à frente da estátua do mártir da independência. A banda da Polícia Militar tocou acordes em homenagem ao grande herói nacional. A praça estava cheia, flores foram colocadas aos pés da estátua do Tiradentes, cantou-se o Hino Nacional e os discursos das autoridades exaltavam a grande figura do alferes, exemplo de patriotismo. Terminada a festa pública, a praça foi se esvaziando, a tarde foi caindo, tudo escureceu. Era noite fria de maio. A praça, agora mais iluminada que há 200 anos antes, tinha ainda o mesmo aspecto macabro.

Naquela noite, uma galeria da cidade havia feito a vernissage de uma exposição sobre Bené da Flauta, extraordinária figura popular que aqui viveu e atuou nos anos 70. Tal evento reuniu artistas e intelectuais e várias pessoas da comunidade, ávidas de recordações dos áureos anos 70 em Ouro Preto.

Lá pelas cinco horas da manhã, dois artistas plásticos da cidade, Gelcio Fortes e José Efigênio Pinto Coelho, chegaram à praça, vindos da exposição. Viram então a incrível cena da praça escura, com a neblina fria se movendo, iluminada pelas luzes dos monumentos públicos com a cabeça do Tiradentes lá no alto do poste, dentro da gaiola.

- Essa cabeça não pode amanhecer aqui! Disse o José Efigênio.

- Ela foi roubada há 200 anos e não amanheceu na praça. Já está quase amanhecendo. Temos que roubar esta cabeça!

O Gê, muito aflito, tentou demovê-lo da idéia, argumentando ser aquela uma festa de militares e autoridades. Qualquer loucura que se fizesse iria acabar mal. Mas não adiantou. O José Efigênio já estava lá no beco do Pilão à procura de uma escada que não encontrou. Decidiu então sacudir o poste, no que foi ajudado pelo Gê. Tanto fizeram que a cabeça caiu, mas ficou presa por uma corda. E agora? O que fazer? Havia uns mendigos dormindo aos pés da estátua do Tiradentes e com eles conseguiram um canivete com que foi cortada a corda. A cabeça se espatifou no chão. Era de gesso e ainda estava meio mole. Apressados e nervosos, pois o dia já clareava, os dois juntaram os cacos da cabeça e colocaram na Brasília bege do Gê.

Seguiram para a casa do José Efigênio e bateram à porta. Eram quase seis horas da manhã. Foram atendidos pela esposa dele sonolenta e atordoada com as novidades. Os dois entraram levando os cacos até o fundo do quintal, cavaram um buraco e enterraram a prova do crime. Ninguém viu nada, ninguém sabe de nada e, como há 200 anos atrás, ninguém sabia quem havia sido o autor do roubo da cabeça do Tiradentes. Promessa selada, cada um foi descansar em sua casa, pois a noite havia sido muito longa.

Mas a paz durou pouco. Às nove horas, aproximadamente,a polícia estava na porta da casa do Gê e depois foi a vez do José Efigênio. Ainda sonolentos, os dois artistas foram levados à delegacia.

O delegado era homem vaidoso, vestia-se à moda sertaneja, com cinturão de fivela com cara de cavalo, calça apertada com gorgorão nas laterais, uma camisa xadrez e botas de salto alto.

Ao interrogar nossos artistas, o homem foi duro. Acusou-os de haver roubado um bem público. Aquela cabeça havia sido doada à Polícia Militar e eles foram pegos em flagrante. Algumas pessoas, esperando ônibus do outro lado da praça, viram tudo, anotaram a placa do carro e ligaram para a polícia denunciando o roubo. O carro foi encontrado e com restos de gesso. Não havia como negar, as provas estavam ali.

José Efigênio ainda tentou explicar ao delegado que eles só haviam repetido o feito histórico de 200 anos atrás, mas o delegado não sabia nada de história e nem queria saber.

A coisa estava nesse ponto quando passou por ali o vereador Flávio Andrade, e quis logo saber o que estava acontecendo. Ciente da situação, levou o José a casa dele onde desenterraram a prova do crime. Aproveitaram para pegar um livro onde estava escrita a história do roubo da cabeça. Telefonaram para o diretor da Escola de Artes que os tranqüilizou dizendo que tinha outras cabeças de Tiradentes.

De volta à delegacia, onde havia permanecido o Gê, mostraram ao delegado o livro e pediram que telefonasse ao diretor da Escola de Artes. O delegado assim o fez e ficou sabendo que existiam outras cabeças e que o roubo fazia parte das comemorações.

Soltos, os dois foram colher os frutos de sua louca ação.

De manhã, pessoas que passaram pela praça, vendo a gaiola vazia pensaram:

- É Ouro Preto não tem jeito. É terra de vândalos, não respeitam nada.

Outros tiveram reação oposta, como a funcionária do Museu da Inconfidência que, ao abrir a janela, viu a gaiola vazia e suspirou aliviada pensando:

- Enfim alguém roubou a cabeça do Tiradentes. Era assim que tinha de ser.  O vereador amigo disse que ficou com inveja, ele gostaria de ter sido o autor do roubo da cabeça.

Na rua, por onde passavam os dois artistas eram cumprimentados por todos. A cidade inteira sabia o que tinham feito através da rádio ou dos cochichos. A maioria havia aprovado. Era a resposta do povo ao autoritarismo de todos os tempos.
                                            
(Texto adaptado do livro “Tesouros, fantasmas e lendas de Ouro Preto”, de Angela Leite Xavier).

Piratininga (Niterói)

Piratininga é um dos bairros em que se divide a cidade de Niterói, no estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Localiza-se no entorno da lagoa de mesmo nome, entre o oceano Atlântico, a serra Grande e o morro da Viração, limitando-se com os bairros niteroienses de CamboinhasItaipuCafubáCharitas e Jurujuba.





O bairro, originado em parte da sesmaria doada a Cristóvão Monteiro, tinha na pesca a sua atividade mais marcante, tendo inclusive sediado uma colônia de pescadores na localidade conhecida como Tibau. O próprio nome do bairro, Piratininga, remete a essa atividade, pois é um termo tupi que significa "secagem de peixe". Com o surgimento das grandes fazendas na região, como a fazenda do Saco, pertencente aos padres jesuítas e a fazenda Piratininga, pertencente a Manuel de Frias e Vasconcelos, a área passou a produzir açúcar, aguardente e café, além de culturas de subsistência. Essa produção seguia, por terra ou mar, até a enseada de Jurujuba e, de lá, até a cidade do Rio de Janeiro.
Com o passar do tempo, o interesse pela área tornou-se crescente e, a partir da década de 1960, vários loteamentos surgiram. Durante o processo de nova configuração espacial do bairro, os posseiros sempre tiveram presença marcante, sendo, até hoje, motivo de impasse envolvendo as empresas imobiliárias, proprietários e o poder público. A área ao redor da lagoa de Piratininga é a de maior conflito e também a que reúne o maior contingente de população de baixa renda.
Desde a década de 1970, o bairro vem sendo ocupado por população de classe média, em virtude da melhoria das vias de acesso e da beleza do lugar: a praia, a lagoa, as ilhas, os costões e vegetação de restinga. Essa rápida ocupação já acabou com o extenso areal, com as pitangueiras e com os coqueiros que existiam.
Destacam-se, ainda, em seus limites, a praia do Imbuí e o forte D. Pedro II do Imbuí, cuja entrada principal dá-se através do bairro de Jurujuba e que fazia parte do sistema de defesa da entrada da baía de Guanabara.
Há cerca de quarenta anos, o navio Madalena, luxuoso transatlântico da Mala Real Inglesa, encerrando a sua viagem inaugural, chocou-se com uma das pedras Tijucas próximas à baía de Guanabara. Após o resgate dos passageiros, o navio soltou-se devido aos ventos e à maré. Na tentativa de salvá-lo, o navio partiu-se ao meio: uma parte afundou e a outra acabou encalhando nas areias da praia do Imbuí.
Conforme dados obtidos através do censo do IBGE/1991, o bairro de Piratininga tem registrado, nas últimas décadas, uma das maiores taxas médias de crescimento populacional de todo o município. As taxas registradas nos períodos 1970/1980 e 1980/1991 foram consideravelmente superiores às médias do município para os mesmos períodos. Na década de 1970, a taxa média de crescimento de Piratininga esteve em por volta de 4,83%, o que representava o 14º maior crescimento entre os bairros de Niterói, enquanto que o município, em sua totalidade, registrava 2,55%. Já no período 1980/1991, o bairro obteve uma aceleração no crescimento se comparado ao período anterior, marcando a taxa de 11,08%, passando a ser o terceiro maior crescimento entre os bairros. O crescimento desse período foi ainda mais significativo quando comparado à taxa média do município, que foi de 0,85%.
O bairro de Piratininga apresenta um total de 9 268 habitantes, o que corresponde a 2,12% do total do município.
A população é bastante equilibrada no que diz respeito a sua composição por sexo: os homens representam 49,18% da população, enquanto que as mulheres representam 50,82%.
A análise da distribuição populacional por grupos de idade demonstra um elevado número de crianças e jovens (entre zero e dezenove anos), que correspondem a 38,10% do total de habitantes do local. Outra faixa bastante significativa é a que se situa entre vinte e 44 anos (adultos), que corresponde a 41,08% do total da população.
A partir da faixa dos 45 anos, nota-se acentuada diminuição do número de habitantes nos grupos que se sucedem, ao ponto de a faixa correspondente aos idosos (sessenta anos em diante) somar apenas 7,77% da população do bairro.
Piratininga ocupa a 26ª posição no município no que diz respeito à taxa de alfabetização, com 88,93% de seus moradores alfabetizados. As faixas de idade mais jovens são as que apresentam as taxas mais elevadas.
Na situação de chefe de domicílio, Piratininga apresenta 82,46% de indivíduos do sexo masculino nesta categoria, enquanto 17,54% são do sexo feminino, sendo este o maior percentual de participação feminina na chefia domiciliar em toda a região Oceânica de Niterói.
No que se refere ao rendimento do chefe de domicílio, Piratininga apresenta-se de forma bastante heterogênea, percebida pela distribuição do rendimento médio, de forma mais significativa, nas seguintes classes: 31,98% do total ganham até dois salários mínimos; 28,73% entre cinco e quinze e 12,33% ganham mais de vinte salários mínimos.
O bairro de Piratininga possui 2 433 domicílios particulares permanentes, quase todos em casas isoladas ou de condomínio. Do total de domicílios particulares permanentes do local, 83,31% são próprios e apenas 6,54% são alugados, existindo, ainda, 10,15% sob outra forma de ocupação, entre os quais 236 são cedidos, provavelmente ocupados por caseiros.
Os domicílios do bairro de Piratininga apresentam características sanitárias que seguem o padrão predominante na região Oceânica, ou seja, a ausência de rede geral de água e esgoto.
Do total de domicílios do bairro, 96,42% obtém sua água através de poços ou nascentes.
Com relação à instalação sanitária, 73,28% dos domicílios possuem fossa séptica, enquanto 26,72%, que correspondem a 650 domicílios, utilizam outros tipos de escoadouro: 329 domicílios, a fossa rudimentar; 160 domicílios, a vala; 49 domicílios, outras formas não discriminadas ; cem domicílios não possuem nenhum tipo de instalação e, em doze domicílios, o entrevistado não soube informar.
A coleta de lixo alcança 84,96% dos domicílios. Do total, 10,64% têm, como fim, a queima no local e 4,40%, outras formas de coleta.
Piratininga tem assumido, no conjunto da região, um papel de destaque no que se refere principalmente à oferta de comércio e de serviços. O bairro possui um número significativo de supermercados, bares, restaurantes, lojas de materiais de construção, lojas de conveniência, agências de automóveis e outros, distribuídos ao longo de suas vias principais, ou ainda, concentrados em centros comerciais. Este fato, aliado à proximidade com as praias oceânicas, têm transformado o bairro num dos principais núcleos de lazer de todo o município. Destaca-se, ainda, como equipamento de lazer, o Iate Clube de Piratininga.
A localização espacial de Piratininga — "porta de entrada" da região Oceânica — é um elemento estratégico para o desenvolvimento do local. A antiga estrada Celso Peçanha, atual estrada Francisco da Cruz Nunes, a principal do bairro, é importante via de acesso aos outros bairros da região e às praias.
Quanto aos equipamentos públicos, encontramos no setor de educação a escola municipal Francisco Portugal Neves, que atende aos dois segmentos do ensino fundamental e a escola estadual Almirante Tamandaré, que atende ao primeiro segmento do ensino fundamental grau. O setor de saúde conta com duas unidades, sendo uma localizada próxima ao trevo de Piratininga e a outra, na localidade do Tibau.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.





Museu de Arqueologia de Itaipu

O Museu de Arqueologia de Itaipu (MAI), localizado no município de Niterói, estado do Rio de Janeiro, é uma unidade vinculada ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), órgão do Ministério da Cultura (MinC). O Museu iniciou suas atividades em 22 de março de 1977 e não possui um instrumento legal de criação tal como um ato ou decreto, porém os Remanescentes do Recolhimento de Santa Teresa, prédio onde está situado, são tombados em instância federal pelo IPHAN, tendo sido o bem inscrito no Livro de Tombo de Belas Artes em 8 de janeiro de 1955.


MUSEU DE ARQUIOLOGIA DE ITAIPÚ NITEROI/RJ

Missão Institucional

Promover a valorização da memória das ocupações humanas pré-cabralinas e posteriores de Niterói através da preservação, da pesquisa e da comunicação de seu acervo, visando ao acesso irrestrito ao patrimônio cultural.


Histórico do Prédio(O Recolhimento de Santa Teresa), Território e Coleção

O Museu de Arqueologia de Itaipu está instalado nas ruínas do antigo Recolhimento de Santa Teresa, instituição fundada em 1764, pelos padres Manuel Francisco da Costa e Manuel da Rocha com a finalidade de abrigar mulheres que pretendiam seguir a vida religiosa, órfãs, mulheres de “vida fácil”, as que haviam engravidado ou mantido romances antes do matrimônio, viúvas e aquelas que ali eram instaladas por seus pais ou maridos quando estes saíam em viagem. O tempo de permanência na instituição era determinado pelo patriarca da família e a internação no estabelecimento requeria o pagamento de um dote pela família e a aprovação da Corte.
De acordo com a documentação acerca do prédio e de seu funcionamento através das Cartas de Visitas Pastorais de 1811/12, há relatos de que nas primeiras décadas do século XIX, as recolhidas e o estabelecimento já se encontravam em estado de “pobreza franciscana”. Em 1833, o prédio estava vazio e o vigário João de Moraes e Silva institui o local como asilo para menores. A partir desta última informação não se tem mais documentos que mencionem o Recolhimento de Santa Teresa de Itaipu, havendo, portanto, um hiato na pesquisa histórica da instituição durante o restante do século XIX.
O século XX é marcado em termos da história do prédio por ocupações, disputas de posse, o tombamento do bem e a criação do Museu. Abandonado, o prédio foi ocupado por pescadores da região que passaram a habitá-lo e a utilizá-lo como espaço para tingimento das redes de pesca, além de haver ocorrido no entorno da muralha uma aglomeração de residências de pescadores.
Após o tombamento do antigo Recolhimento, as sucessivas correspondências expedidas por parte da Colônia de Pescadores da região demonstram uma preocupação com a conservação do monumento, solicitando ao Governo do Estado e à então Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional que retirassem dali a casa de motor da Companhia Territorial Itaipu, proprietária do terreno, para que o bem viesse a servir de sede à Colônia. A Cia. Territorial Itaipu, por sua vez, se dirige à DPHAN acusando o interventor da Colônia de ocupar indevidamente os remanescentes do Recolhimento, se propondo, inclusive, a restaurar o prédio sob orientação do Patrimônio Histórico.
Em 1968, inicia-se a obra de consolidação e conservação-restauração da capela e das paredes de rocha das muralhas, esta foi coordenada por Edgard Jacintho, chefe do Departamento de Conservação e Restauração da DPHAN. Assim, as aberturas em suas paredes foram vedadas e a desocupação de seu interior efetuada. Deste período adiante, tem início o projeto de criação de um museu a ser instalado no monumento.
O acervo institucional do MAI é composto pela Coleção Hildo de Mello Ribeiro, 6 blocos testemunhos do Sambaqui de Camboinhas, uma canoa do século XIX e artefatos arqueológicos encontrados nas redondezas do Museu e para ele encaminhados por pessoas da região ou usuários da praia. A Coleção Hildo constitui o núcleo inicial do acervo institucional, esta coleção formou-se durante as décadas de 60 e 70 através de coleta no sítio arqueológico da Duna Grande realizada pelo arqueólogo-amador Hildo de Mello Ribeiro, também agente federal de fiscalização da pesca e morador de Itaipu.
A Coleção compõe-se de cerca de 980 objetos testemunhos de povos que habitaram a região antes do ano de 1500, dentre os quais: machados de pedra, pontas de ossos, ossada humana, lascas de quartzo, polidores, peças cerâmicas, conchas etc. A Coleção, porém, não é reconhecida como científica devido à forma como foi composta, já que a falta de método impossibilitou sua datação. Entretanto, ainda que suas peças não possuam uma datação acurada, elas não deixam de ser representantes de uma cultura coletora, caçadora e pescadora que um dia habitou a faixa litorânea da Região Oceânica de Niterói, se fazendo, assim, passível de ser exposta e trabalhada com fins didáticos.
Os blocos testemunhos do Sambaqui de Camboinhas pertencentes ao Museu são frutos da Pesquisa de Salvamento em Itaipu, ocorrida em 1979, quando da construção da estrada de Camboinhas e do projeto de urbanização da orla de Itaipu, episódio que viria a deteriorar os sítios arqueológicos da Duna Pequena e do Sambaqui ali localizados. Tendo em vista a preservação deste valioso patrimônio, cuja datação aproxima-se de 7 mil anos aC, uma equipe de pesquisadores, coordenada pela Prof. Dr. Lina Kneip do Museu Nacional, foi enviada ao local com o intuito de reconstituir o quadro arqueológico e ecológico do litoral de Itaipu e estudar a adaptação de culturas caçadoras, pescadoras e coletoras litorâneas e a evolução do meio natural, obtendo como um dos resultados da pesquisa a preservação de blocos testemunhos do Sambaqui.
Além da Coleção Hildo e dos blocos testemunhos, o Museu conta, ainda, com uma Canoa de jequitibá, doada em 1979, pela colônia de pescadores local, cuja construção remonta ao século XIX. Até aquela data, ela fora utilizada como cocho para tingimento das redes de pesca e pertencera a Seu Vavá, um pescador da região. É comum, ainda hoje, a doação de objetos arqueológicos e de pesca encontrados pelas cercanias do Museu por moradores da colônia de pescadores.


Projeto de Criação do Museu

O projeto de criação do Museu, empreendido pelo arquiteto do IPHAN Edgard Jacintho com o apoio de Renato Soeiro, diretor do Instituto à época, foi pensado de forma a dotar o bem tombado, cujas ruínas passavam por processo de consolidação, de uma função didático-científica compromissada com a salvaguarda e a difusão do patrimônio cultural de natureza arqueológica, intensificando o turismo na região e alinhando-se às diretrizes do MEC naquele período.
O Museu deveria, ainda, se estruturar em relação direta e integradora com seu entorno, suas atividades extrapolariam as convencionais exposições intramuros e se estenderiam aos sítios arqueológicos da região, em particular, o Sítio Duna Grande - localizado a poucos metros do antigo recolhimento religioso - cujo tombamento pelo IPHAN encontra-se em processo desde 1986, afora sua já assegurada proteção pela Lei Federal nº3.924/61 que dispõe sobre os monumentos arqueológicos e pré-históricos.
No que tange à estreita relação da comunidade local com o bem em si, assim como com o passado histórico da região caberiam ao acervo a ser abarcado pela instituição e às futuras exposições contemplar tal relação, posto que se centrariam, principalmente, nos vestígios arqueológicos de ocupações territoriais anteriores coletados ao longo do litoral do Estado do Rio de Janeiro, compreendendo, no período, a faixa de Niterói a Cabo Frio. Desta forma, se explicitaria e chamaria à atenção a perpetuação e as modificações ocorridas na economia de subsistência dessa população local através da pesca, recuperando no passado pré-histórico origens dessa cultura.
Cabe, ainda, mencionar a elaboração de um anteprojeto por Renato Soeiro de convênio a ser firmado entre o IPHAN e o Departamento de Antropologia da Universidade Federal Fluminense (UFF) para a instalação de um laboratório de antropologia no Museu com o intuito de promover o ensino e a pesquisa de antropologia e arqueologia dentro da instituição.


Inauguração e Atuação

Após sua abertura em 1977, o museu, que contava com três exposições organizadas por pesquisadores do Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, veio a ser fechado em 1980 por motivo de obras. Dois anos depois, foi novamente aberto com o apoio da Empresa Niteroiense de Turismo (Enitur/Prefeitura Municipal de Niterói), datando desta época a primeira montagem da exposição Aspectos da pré-história do litoral do Estado do Rio de Janeiro, cujo acervo exposto pertencia em quase toda sua totalidade ao Museu Nacional e ao Instituto de Arqueologia Brasileira (IAB). Esta exposição foi desmontada em 2009 tendo em vista a implantação do projeto da nova exposição de longa duração Percursos do Tempo - Revelando Itaipu.
Nas décadas que se seguiram, o museu passou por novos fechamentos e reaberturas, sofreu obras de readequação para a construção de uma nova sede administrativa, e buscou o empreendimento de um projeto de revitalização da instituição em fins dos anos 1990 que não veio a se concretizar em sua plenitude.
Algumas ações visando ao cumprimento da missão institucional do museu e, conseqüentemente, de expansão de sua divulgação e da atuação do IPHAN foram encampadas através da organização de cursos e palestras destinados à comunidade e a profissionais variados, bem como pelo estabelecimento de parcerias com instituições da área de cultura, a Colônia de Pescadores Z-7, o Conselho Comunitário da Região Oceânica de Niterói, artistas e comerciantes de Niterói, que colaboram na realização de eventos e exposições do Museu. Já a parceria com a Faculdade de Educação da UFF rendeu ao museu o Caniço & Samburá, projeto de ação educativa que veio a se tornar a atividade de alcance social mais abrangente do museu através do agendamento de visitas e oficinas.
Em 2010, o MAI inaugurou, após três anos de criação e planejamento, sua nova exposição de longa duração. A exposição Percursos do Tempo - Revelando Itaipu tem como linha mestra de seu discurso a ocupação humana na região de Itaipu, e narra estas múltiplas histórias através do acervo institucional, com recursos museográficos mais compatíveis com as linguagens contemporâneas.
O ano de 2010 também marcou o início das atividades do Programa de Educação Ambiental, intitulado Diagnóstico e Monitoramento da Saúde Lagunar e dos Recursos Pesqueiros de Itaipu, cujo foco é trabalhar com a comunidade de pescadores e de estudantes local pelo viés da memória coletiva e da preservação dos ecossistemas de Itaipu, de forma a sensibilizar aqueles envolvidos no projeto para as questões referentes à perpetuidade da biodiversidade e à promoção de qualidade de vida.


Projeto Educativo: Caniço e Samburá

O Projeto “Caniço & Samburá” – que recebeu esse nome em homenagem à Colônia de Pescadores de Itaipu - consiste em um acervo itinerante para empréstimo às escolas do município de Niterói e adjacências e tem como objetivo principal subsidiar os professores através de material didático a ser trabalhado em sala de aula. Este material cumpre a função de uma preparação prévia da visita ao museu e aborda temas como “patrimônio cultural” e “arqueologia” com o intuito de disseminar informações corretas acerca dessas questões.
Esses materiais são entregues à escola 15 dias antes da data previamente agendada para visita ao museu em um cesto artesanal semelhante ao utilizado na atividade pesqueira, onde estão reunidos materiais impressos, de vídeo e fotográfico sobre arqueologia, patrimônio cultural e a história do Museu de Arqueologia de Itaipu de forma a ser trabalhado e recriado pelos professores e alunos com a finalidade de compreender os temas abordados na visita.
Na escola, o professor terá a oportunidade de implementar diversas atividades e estudos com estes materiais, incentivando a curiosidade nos estudantes à ida ao museu a fim de ver de perto o que eles conheceram e estudaram em sala de aula. É interessante ressaltar que cabe ao professor selecionar o que será mais adequado utilizar para a faixa etária de seus alunos, a fim de que as informações sejam assimiladas e conseqüentemente melhor aproveitadas.
Para o Museu e sua equipe de monitores é extremamente gratificante este processo, pois permite adiantar passos na relação com os estudantes uma vez que eles já sabem os assuntos que serão tratados na visita e, muitas vezes, trazem perguntas e dúvidas acerca do que viram e ouviram em sala de aula, facilitando assim o diálogo com os monitores.


Programa de Educação Ambiental (PEA) - Projeto Diagnóstico e Monitoramento da Saúde Lagunar e dos Recursos Pesqueiros de Itaipu

O museu encontra-se nas antigas ruínas remanescentes do Recolhimento de Santa Teresa, inserido em meio ao complexo ecossistêmico de Itaipu, possuindo em seu entorno habitats relativamente conservados, típicos do ecossistema costeiro.
Pode-se perceber uma estreita relação entre esses recursos naturais e a história da ocupação humana no entorno do que hoje é o MAI/MUSAI através da presença de sítios arqueológicos de povos pescadores-caçadores-coletores que habitaram a região, assim como através do modo de vida da comunidade pesqueira local que vive do extrativismo em pleno século XXI.
Os ecossistemas marinho e lagunar da região abrangida pelo projeto são dos mais relevantes do ponto de vista ambiental e econômico para o Município de Niterói, já que são responsáveis pela geração de renda, recreação, navegação, turismo e subsistência. Todavia, nas últimas décadas, a degradação e os conflitos entre seus usuários vêm se acirrando com risco de significativa depreciação da qualidade ambiental e dos aspectos socioeconômicos envolvidos. Partindo desse contexto, o MAI/MUSAI desenvolve o projeto em questão como uma proposta educativa que conta com a participação da comunidade local (pescadores e moradores do entorno do museu) e alunos da rede municipal de ensino, visando abordar a problemática ambiental referente à conservação dos ecossistemas da localidade.
As atividades realizadas durante o projeto têm como base as dependências do MAI/MUSAI, mas são desenvolvidas em sua maioria no entorno do museu, utilizando como laboratório o ambiente natural que o cerca, seus recursos naturais e as entidades biológicas a eles associadas.
Pretende-se com este projeto o estreitamento das relações entre o MAI/MUSAI, as instituições de ensino e a comunidade local, promovendo uma reflexão acerca da conservação dos recursos naturais, da história e do patrimônio cultural local. As atividades destinadas aos alunos da rede pública de ensino municipal têm como objetivo construir um banco de dados sobre o recurso pesqueiro da região através de um inventário da biodiversidade e dos recursos naturais explorados pela comunidade local. Para isso, foram desenvolvidas etapas nas quais os alunos observam e estudam os ecossistemas em questão e sua biodiversidade, além de terem a possibilidade de conhecer a história da comunidade tradicional.

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O Museu funciona de terça-feira à sexta-feira de 10:00 às 17:00. Sábados, domingos e feriados de 13:00 às 17:00
O valor do ingresso é de R$2,00, estando isentos de pagamento crianças menores de 7 anos e idosos(acima de 65 anos). Estudantes pagam meia-entrada.
Telefone: 55 - 21 - 3701 2966 / 3701 2994
E-mail: mai@museus.gov.br
Endereço: Praça de Itaipu, s/n° - Niterói - RJ


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