sábado, 27 de novembro de 2010


Medo da violência deixa cerca de 10 mil alunos sem aulas em Niterói e SG



Sequência de boatos deixou estudantes apreensivos e aulas foram suspensas em escolas estaduais e municipais e Universidades como Uerj, Cândido Mendes e Estácio de Sá

Com o clima de insegurança desencadeado pela onda de violência, estima-se que cerca de dez mil estudantes de Niterói e São Gonçalo não tenham tido aulas nesta sexta-feira. Houve instituições que optaram pelo cancelamento das atividades, principalmente nos turnos da tarde e da noite. Apesar do medo que permeia a rotina da região metropolitana nos últimos dias, algumas escolas e universidades funcionaram, mas poucos alunos nos dois municípios compareceram às aulas.
Com a sequência de boatos que assolam as cidades, um estouro na caixa de força da Escola Estadual Doutor Memória, em Santa Rosa, causou pânico entre alunos, professores e as pessoas que passavam na rua na tarde desta sexta-feira. Cerca de 40 minutos depois, técnicos da Ampla constataram que o problema começou com um curto circuito no sistema elétrico.
Em Niterói, a Escola Municipal Rosalina de Araújo, no Barreto, permaneceu fechada durante todo o dia.
O Colégio Liceu, localizado no Centro de Niterói e a escola municipal Eulália da Santa Bragança, em Piratininga cancelaram o expediente no turno da tarde para preservar a integridade dos alunos e professores.
Já São Gonçalo contabilizou a interrupção integral das atividades em apenas três colégios estaduais: Francisco Lima (Gradim), Ministro José de Moura e Silva (Bairro do Rocha) e Santos Dias (Neves).
No campus da Uerj, no Patronato, a movimentação de alunos também foi pequena. A diretora Maria Tereza Goudard Tavares informou que menos de um terço dos 3500 alunos compareceram às aulas.
Em Niterói, algumas universidades situadas no Centro da cidade, como a Cândido Mendes e a Estácio de Sá também suspenderam as aulas no período noturno.

O FLUMINENSE

Traficante foge do Complexo do Alemão e é preso em São Gonçalo



Homem estava escondido no Morro da Chatuba, Zona Norte do Rio. Acusado seria um dos líderes do PCC, em SP, e teria buscado esconderijo no município fluminense

Um traficante do PCC (primeiro comando da capital, quadrilha original de São Paulo) foi preso na noite desta quinta-feira no Complexo do Salgueiro por policiais do serviço reservado do 7º BPM (São Gonçalo), após denúncias anônimas.
O acusado foi identificado como Sérgio Pereira Moraes, 30 anos, estava foragido do presídio Vicente Piragibe (Rio de Janeiro) e considerado um dos líderes do PCC no estado. Ele seria conhecido como “Baiano” e têm vários mandatos de prisão expedidos pela justiça.
O preso, segundo o comandante do 7º BPM, tenente-coronel Cláudio Luiz da Silva de Oliveira, estaria escondido no morro da Chatuba, complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. Segundo o comandante, o acusado teria buscado esconderijo em São Gonçalo, devido a repressão imposta pela policia nas favelas do Rio.
O preso será encaminhado para a central de flagrantes da 72ª DP (Mutuá) onde vai depor para autoridades.
Em outra operação do mesmo batalhão, no Morro da Coruja em Neves, também em São Gonçalo, um homem foi preso, ainda não identificado, com drogas e dois rádios transmissores. O acusado por tráfico de drogas foi levado para 73ª DP (Neves).

Parque Estadual, localizado entre Niterói e Marica, administrado pelo, comemora data com extensa programação. Área de preservação inclui espécies raras e em risco de extinção

O Parque Estadual da Serra da Tiririca, administrado pelo Instituto Estadual do Ambiente (Inea), órgão executivo da Secretaria do Ambiente, comemora neste fim de semana seu 19º aniversário de criação com a renovação do seu Conselho Consultivo e comemorando novas conquistas. A programação começa na última sexta-feira e vai até este domingo. Com 2,26 mil hectares, o Parque da Serra da Tiririca abrange áreas dos municípios de Niterói e Maricá e reúne vegetação típica de Mata Atlântica, incluindo espécies raras e em risco de extinção.
Durante todo o sábado, das 9h às 18h, acontecem eventos no Rancho das Tochas, incluindo a abertura da exposição de trabalhos de instituições parceiras, como o DRM, o Instituto Vital Brazil, o Museu de Arqueologia de Itaipu, o Clube Niteroiense de Montanhismo, a Neltur e a Casa da Ciência. O diretor de Biodiversidade do Inea, André Ilha, vai receber o credenciamento dos novos conselheiros do Conselho Consultivo do Peset e haverá também a apresentação do Regimento Interno.
No mesmo dia, foi lançada também a Campanha Abrace o Parque e Ciclovia do Abraço, que fazem parte da programação comemorativa dos 20 anos de criação da unidade, que irão acontecer ao longo do ano que vem. Eventos como o Limpa Lagoa de Itaipu e a Tenda Verde (exposição itinerante das instituições do Conselho Consultivo) também estão previstos para o ano que vem.
No domingo, acontecem atividades de escalada e cicloturismo e exposições ao longo do dia. A comemoração do aniversário do parque começou no dia 21, com uma agenda de visitas e palestras para estudante sobre a importância da unidade, criada em 1991 como parte de uma mobilização comunitária. O Parque Estadual da Serra da Tiririca recebeu novo impulso nos últimos quatro anos: sua área foi ampliada e o quadro de pessoal recebeu o reforço de 13 guarda-parques, que atuam como apoio na orientação aos visitantes e fiscalização. Novos equipamentos foram adquiridos e o Conselho Consultivo foi reestruturado, ampliando a participação comunitária.

Governo do Estado do Rio de Janeiro

Niterói: forte temporal retira grama recém-colocada no Morro do Bumba



Chuva que caiu na cidade na madrugada de sexta-feira fez descer parte do que foi plantado no local. Apesar do dano, intervenção paisagística no Viçoso Jardim, não vai atrasar
A chuva que atingiu a cidade de quinta-feira para ontem, fez descer a grama recém-colocada no Morro do Bumba, no bairro de Viçoso Jardim. A intervenção paisagística faz parte do projeto de uma praça executado pela Secretaria de Estado de Obras (Seobras), com investimento de R$ 35 milhões do Governo Federal. O local fará uma homenagem às vítimas dos desmoronamentos de abril, que deixaram 47 mortos no local. A colocação de vegetação na encosta é também uma tentativa de conter novos deslizamentos.
A Secretaria de Obras informou, contudo, que o contratempo não deverá atrapalhar a entrega das obras, prevista para o próximo mês. No local da tragédia, a população, a princípio contrária à intervenção – alguns desabrigados chegaram a realizar protestos contra a construção da praça e reivindicando casas –, agora requer eficácia na sua execução, a fim de evitar novos deslizamentos e desastres.
“As pessoas que vierem a utilizar essa área precisam ter segurança”, resume o morador do bairro, Severino Belo da Silva Filho, de 27 anos. 
Já a aposentada Neuza Maria dos Santos, 60 anos, acredita que a execução da obra deva ser revista.
“A camada de lixo não foi retirada, apenas coberta pelo barro vermelho. Com isso, além do mau-cheiro e riscos para a saúde, pois ali havia até lixo hospitalar, essa terra ainda pode descer com uma chuva forte. Não sou contra a praça, mas estou entre os que acham que a construção de casas para os desabrigados deveria ser priorizada. Porém, já que essa obra começou, só quero que seja feita com qualidade”, comenta a moradora.

O FLUMINENSE

ORAÇÃO PELA PAZ MUNDIAL
Precioso Senhor do Universo

Hoje, renuncio a todas as armas do ódio e agressão em meus pensamentos, palavras e atos.

Hoje, renuncio aos ressentimentos e mágoas que me levaram a atacar os outros e prejudicar-me.

Hoje, renuncio a todas as idéias de cinismo e julgamento, a todas as palavras destrutivas e a todos os atos de vingança e violência contra mim e contra os outros.

Hoje, limpe-me de todos os pensamentos e palavras de ataque, a fim de que eu possa dar os passos necessários para instalar a paz em meu coração e oferece-la ao mundo.

Hoje, não me deixe esquecer que cada ato meu é importante para construir a paz no mundo.

Hoje, abro meu coração para enviar energia do amor a todos os líderes mundiais

Hoje, abro meu espírito para contruir na criação de um mundo em que a agrassão e a violência se transforme em solildariedade e compaixão

Hoje, abro meus olhos para conscientizar-me de tudo o que posso fazer ou dizer para promover a presença da paz.

Hoje, reconheço que a paz começa comigo.

Hoje, eu me entrego confiantemente em Suas Mãos

Dedico cada idéia que penso, cada palavra que digo e cada um dos meus atos à criação, manutenção e propagação da paz.

Faça com que a luz da paz reine em mim.

Que a presença da paz reine em mim.

Faça com que o poder da paz irradie de mim e através de mim!

Que a paz envolva todo mundo!

Assim é!

E assim seja!

Esta mensagem encontra-se no Livro
Posso Conseguir o que Desejo

Na LojaSorria.com.br
Oração Pela Paz 
Padre Zezinho 

Cristo, quero ser instrumento de Tua
Paz e do Teu infinito amor
Onde houver ódio e rancor, que eu
Leve a concórdia, que eu leve o amor

Onde há ofensa que dói
Que eu leve o perdão
Onde houver a discórdia,
Que eu leve a união e Tua paz

Onde encontrar um irmão 
a chorar de Tristeza 
sem ter voz e nem vez
Quero bem no seu coração 
semear alegria 
pra florir gratidão

Mestre, que eu saiba amar
Compreender, consolar 
e dar sem receber
Quero sempre mais perdoar 
trabalhar na conquista 
e vitória da paz

Tim Lopes - Caso Tim Lopes mobiliza todo o país


Morte de Tim Lopes denuncia o poder dos traficantes

De bermuda, com uma velha camisa amarela e sandálias, como um típico carioca do morro, o jornalista Tim Lopes, 51 anos, saiu da sede da TV Globo no dia 2 de junho de 2002 para fazer a sua última grande reportagem investigativa. Levava uma microcâmera escondida dentro da pochete presa à cintura para filmar um baile funk na favela da Vila Cruzeiro, uma das 12 favelas integrantes do morro conhecido como Complexo do Alemão, no bairro da Penha, subúrbio do Rio de Janeiro. Ele havia recebido uma denúncia dos moradores da favela de que nos bailes patrocinados por traficantes acontecia a exploração sexual de jovens e o consumo de drogas. Os moradores pediam ajuda.
Aquela seria a quarta vez que Lopes subiria à favela para realizar esta reportagem. Nas duas primeiras, fez o reconhecimento de área. Na terceira, levou a microcâmera, mas as imagens não foram consideradas boas o suficiente para sustentar a denúncia - ele não tinha imagens do baile. Por isso, voltou ao local. A combinação era que o motorista, contratado pela TV Globo especialmente para o serviço, o pegasse no morro às 20h. No horário previsto, entretanto, Lopes avisou que precisaria de mais tempo para completar o trabalho. Pediu que o buscasse novamente às 22h. O motorista voltou como foi combinado, mas o jornalista não apareceu.
Marcelo Moreira, 32 anos, chefe de reportagem da TV Globo no Rio de Janeiro, conta que, quando o motorista ligou para a redação avisando que o jornalista não havia aparecido, foi recomendado que ele esperasse por Lopes até a meia-noite. “A questão do horário é rígida, mas ele foi num baile funk, não tinha horário para acabar, e fomos levados a crer que o baile tinha se estendido por causa do jogo do Brasil (durante a Copa Mundial de Futebol)”, explica Ali Kamel, 40 anos, diretor-executivo de Jornalismo da TV Globo.
Moreira chegou mais cedo na redação, por volta das 4h, devido ao jogo, que começaria às 6h. “Quando desconfiamos que algo de errado havia acontecido, ligamos para todo mundo”, disse Moreira.
O que se seguiu foi o início da busca de Lopes que culminou, uma semana depois, com o anúncio de sua morte e a troca de farpas entre autoridades locais e nacionais na tentativa de encontrar os culpados e pela ineficiência do poder público diante do poder estabelecido pelos traficantes de drogas.
A morte de Lopes foi confirmada depois da prisão de Fernando Sátiro da Silva, o Frei, e Reinaldo Amaral de Jesus, o Cabê, dois integrantes da quadrilha do traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, um dos líderes do grupo criminoso Comando Vermelho, que detém o poder no Complexo do Alemão. Os depoimentos dos presos indicam que o jornalista pode ter sido identificado pelos traficantes como sendo como o autor da reportagem “Feira de Drogas” veiculada pela TV Globo em agosto de 2001. Na reportagem, Lopes filmou, com uma microcâmera escondida, a venda de drogas nas ruas do morro do Alemão. Depois que sua reportagem foi ar, foram presos traficantes e o negócio foi interrompido por um tempo, causando prejuízos aos narcotraficantes.
Segundo os depoimentos colhidos pela polícia, os traficantes teriam levado o jornalista da favela Vila Cruzeiro para a favela da Grota, onde estava Elias Maluco. Ali teriam feito um “julgamento” para decidir se o matariam. Ele foi barbaramente espancado e torturado. Seu corpo foi esquartejado e queimado em pneus numa gruta, método conhecido como “microondas” e muito usado por traficantes para matar policiais ou informantes e eliminar rastros que podem servir de provas contra seus assassinos.
A prisão de Elias Maluco, que passou a ser chamado de “bandido mais perigoso do Rio de Janeiro”, e dos demais assassinos do jornalista foi definida como uma “questão de honra” por representantes do governo do Rio do Janeiro. Durante uma semana, a polícia realizou incursões diárias no morro, em busca do corpo do jornalista e dos culpados, ou de testemunhas que possam levar aos assassinos. Até o dia 17 de junho de 2002, foram identificados nove integrantes da quadrilha de Elias Maluco que teriam participado do assassinato de Lopes. Dois estão presos.
Ângelo Ferreira da Silva, preso em 13 de junho, confessou que estava no carro Palio que teria transportado Lopes da Vila Cruzeiro para a favela da Grota, onde estava Elias Maluco. Segundo Silva, Lopes estava amarrado e ferido à bala na perna quando foi colocado no carro. Ele relatou as cenas de tortura pelas quais passou o jornalista, mas disse que não estava presente quando Lopes morreu. Revelou também os nomes de outros dois envolvidos no assassinato.
Elizeu Felício de Souza, o Zeu, preso em 14 de junho e apontado como um dos seguranças de Elias Maluco que teria assistido à execução de Lopes, confessou que comprou gasolina e diesel em um posto de gasolina perto da entrada da favela Nova Brasília, que integra o Complexo do Alemão. Zeu disse ter entendido que um inimigo da quadrilha teria o corpo queimado, mas não confirmou se era o de Lopes.
A busca continua
A Rede Globo, através de suas retransmissoras em todo o país, do canal a cabo, do jornal e da rádio pertencentes ao grupo, iniciou uma campanha para encontrar os “Inimigos do Rio” - como passaram a ser identificados os acusados da morte de Lopes.
Os meios de comunicação têm ajudado a divulgar o telefone do Disque-Denúncia, um sistema de denúncia anônimo patrocinado pelo governo do Estado e o Movimento Rio de Combate ao Crime, que dividem o custo de uma recompensa de R$ 50 mil para quem der informações sobre o paradeiro de Elias Maluco. Cartazes com o número do Disque-Denúncia - (21) 22531177 - estão colados nos vidros traseiros dos ônibus que circulam pela cidade. A polícia não descarta a hipótese de que Elias Maluco esteja foragido em outra favela ou mesmo em outro Estado.
Segurança do repórter
A morte de Lopes revelou várias irregularidades. Jornalistas e policiais têm várias críticas mútuas. Uma delas é quanto ao tempo que a TV Globo demorou para comunicar a polícia sobre o desaparecimento do jornalista. A polícia reclama que só foi avisada do desaparecimento do jornalista por volta das 8h da manhã seguinte. “Mandamos uma pessoa fazer queixa na delegacia, e ela só chegou às 8h. Mas, antes disso, já havíamos ligado para o posto da Polícia Militar na favela”, conta o chefe de reportagem da TV Globo, Marcelo Moreira. “Entretanto, a primeira incursão da polícia na favela só ocorreu às 13h do dia 3, segunda-feira”.
Outros criticam a falta de segurança para resgatar o repórter, em caso de emergência durante a reportagem. “Tim não era de correr riscos, se tivesse sido ameaçado, tenho certeza de que não voltaria ao local”, diz Moreira.
Ali Kamel, diretor-executivo de Jornalismo, lembra que o evento que Lopes estava filmando era público, e o jornalista não se fez passar por bandido ou morador - não requeria, portanto, o mesmo esquema de segurança de quem vai se infiltrar num prédio ou num local fechado. Uma testemunha disse à TV Globo que viu Lopes ser levado para fora do baile e espancado. Kamel ressalta que o jornalista não estava infiltrado, estava disfarçado de cidadão carioca. “Ali, qualquer um seria morto se estivesse com um bloco de notas e o recado é que os traficantes não querem mais a imprensa no morro porque prejudica os negócios”, acredita.
A forma como o jornalista morreu, ao entrar na área de favela sem nenhuma proteção, gerou uma nota da comissão do Sindicato dos Jornalistas encarregada de acompanhar as investigações. “Nos últimos dias, muitos de nós ouvimos nas ruas, e até mesmo de fontes, comentários de que Lopes teria sido irresponsável por estar numa favela dominada pelo tráfico nas condições em que estava. Ou mesmo que teria sido levado a isso por seus chefes”, diz o texto. E acrescenta: “A essas pessoas, que talvez desconheçam a rotina do nosso trabalho, lembramos que a realidade do tráfico de drogas nos morros só é conhecida de todos, e muitas vezes inclusive da polícia, porque jornalistas vão lá para contar”.
A TV Globo formou uma comissão interna para reavaliar suas coberturas diante da violência no Rio de Janeiro e as medidas de segurança. Outras empresas também começam a se proteger. A partir do assassinato de Lopes, alguns repórteres estão subindo os morros do Rio de Janeiro com coletes à prova de balas. Até o uso de carros blindados está sendo estudado. Em artigos de jornais e programas de televisão, profissionais da imprensa questionam o uso da microcâmera e a ética nas investigações.
O fato também gerou seminários organizados pelo Sindicato dos Jornalistas e pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) sobre condições de segurança para os jornalistas.
Alexandre Medeiros, jornalista de 41 anos com 20 de trabalho, era amigo de Lopes. Estava escrevendo com ele um livro sobre o samba e a Mangueira, e interrompeu sua participação no projeto Casa das Artes da Mangueira porque se sente ameaçado. “Antigamente, identificar-se como jornalista era garantia de um tratamento diferenciado. Hoje, é como estar na mira de um tiro”, disse. Depois da morte de Lopes, Medeiros apareceu mais de uma vez na televisão pedindo providências da polícia para prender os culpados.
Ineficiência do sistema
O traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, principal acusado da morte de Lopes, já havia sido preso, condenado e julgado em 1996. É considerado o mais cruel dos traficantes e o principal líder do grupo Comando Vermelho em liberdade. Sua ficha registra que, em 1993, ele humilhou e executou quatro policiais do 9º Batalhão da Polícia Militar. Como vingança, os policiais invadiram a favela Vigário Geral e mataram 21 pessoas. Também é acusado da invasão dos morros dos Macacos e do Pau da Bandeira, quando seis pessoas morreram, três ficaram feridas e os moradores foram expulsos de suas casas.
É creditado a ele ainda um audacioso plano de libertação de outro traficante, Adair Marlon Duarte, destruindo uma das paredes da prisão com uma carreta, e o seqüestro do estudante Eduardo Eugênio Gouveia Vieira Filho.
Apesar de tudo isso, Elias Maluco foi colocado em liberdade condicional em 2000, através de um habeas corpus. Segundo o presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, Marcus Faver, o juiz teria concedido o habeas corpus por excesso de prazo, para evitar a acusação de constrangimento ilegal.
O papel da polícia no morro

O chefe da Delegacia de Homicídios, Paulo Passos, e o delegado Carlos Henrique Machado, que participou das incursões pelo Complexo do Alemão em busca do corpo do jornalista e de seus assassinos, afirmaram desconhecer a existência de um cemitério clandestino no alto da favela da Grota, onde encontraram restos de corpos, partes da microcâmera com uma identificação da Rede Globo, um relógio, uma corrente com um crucifixo, um facão e uma camisa. Funcionários da TV Globo confirmaram que a placa de identificação pertencia à microcâmera usada por Lopes, e que também eram dele o relógio e a corrente.

No Complexo do Alemão, composto por 12 favelas, há quatro unidades da Polícia Militar. São os chamados Postos de Policiamento Comunitário ou Destacamentos de Policiamento Ostensivo. Um deles é no alto da favela Vila Cruzeiro, onde ocorrem os bailes funk que Lopes foi investigar.
Cada favela é uma espécie de cidade. A geografia do morro, com suas ruas tortuosas, é um bom esconderijo para os criminosos. Mas a comunidade, em geral, sabe tudo o que acontece ali dentro. Informações que chegaram à polícia pelo Disque-Denúncia descreviam, por exemplo, que foram ouvidos gritos tão altos na noite em que Lopes morreu, que os moradores tiveram de fechar suas janelas para não escutá-los. Há relatos de moradores sobre “desfiles” que ocorrem por toda a favela, sob pancadas e tortura, dos “traidores” ou “bandidos” condenados pela lei do tráfico, antes de matá-los. Há notícias de que um policial foi barbaramente torturado quando foi pego infiltrado num morro.
Mesmo que o posto de policiamento esteja a uma distância grande do local onde ocorreu o baile funk, a polícia não sabia da exploração sexual de jovens e consumo de drogas no local? No cemitério clandestino da Grota foram encontradas pelo menos cinco arcadas dentárias que não conferiam com as de Lopes, além de fragmentos de ossos.
A situação é tão difícil, que em uma entrevista publicada em O Globo, em 23 de junho, o presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar (PM), Vanderlei Ribeiro, afirmou que existe uma determinação do comando-geral que proíbe os policiais de entrarem em 15 favelas do Rio de Janeiro, a não ser que tenham o apoio das forças de elite, como o Batalhão de Operações Especiais (Bope), da PM, e a Coordenação de Recursos Especiais (Core), da Polícia Civil.
O subsecretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Ronaldo Rangel, disse que a SIP que a polícia que fica nas unidades situadas nos morros só atua ostensivamente, ou quando há uma denúncia. Afirmou ainda que não havia indícios de que a polícia sabia do “microondas” ou do cemitério clandestino, de onde os peritos do Instituto Médico Legal conseguiram reconstituir, com os ossos encontrados, sete esqueletos que serão submetidos a exames de DNA.
A condição nas favelas levou o secretário da Segurança, Roberto Aguiar, a anunciar, em 17 de junho, que será feita a ocupação social (com postos de saúde e outros serviços) no Complexo do Alemão, começando pela Vila Cruzeiro. Disse que a favela da Grota, onde o jornalista foi assassinado, será reurbanizada, para que o local não volte a servir de cemitério clandestino para o tráfico. Aguiar se comprometeu ainda a implantar radares de solo e serviços de geólogos e arqueólogos para continuar com a busca por corpos no cemitério da Grota. Um mês depois do desaparecimento de Lopes, entretanto, o corpo do jornalista não foi encontrado, os assassinos não foram presos, e as providências de Aguiar ainda não foram implementadas.
Corrupção e impunidade favorecem a criminalidade
O assassinato de Lopes mobilizou a polícia, os políticos e os meios de comunicação graças ao poder de penetração da Rede Globo. Mas nem sempre uma morte violenta como a dele tem tanto respaldo. Outros jornalistas brasileiros assassinados no exercício da profissão não tiveram tanto destaque e muitos dos inquéritos que apuram suas mortes permanecem parados.
No Rio de Janeiro, há duas outras mortes de jornalistas sendo investigadas. O caso de Mário Coelho Filho, do jornal A Verdade, assassinado em agosto de 2001, em Magé, na Baixada Fluminense, segundo o delegado Carlos Henrique Machado, da delegacia de Homicídios, está em andamento. O titular da delegacia, Paulo Passos, admite, no entanto, que o inquérito sobre o assassinato de Reinaldo Coutinho da Silva, do Cachoeiras Jornal, em agosto de 1995, em Cachoeiras de Macacu, não tem como ir adiante, porque não há novas testemunhas e o fato ocorreu há muito tempo.
A advogada Cristina Leonardo, coordenadora da organização não-governamental Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, no Rio de Janeiro, lembra que a morte de Lopes se difere dos demais casos que permanecem impunes por uma questão básica: “Normalmente, a delegacia e a Justiça, para dificultar as investigações quando a pessoa está morta e os assassinos sumiram com o corpo, dizem que, se não tem corpo, não tem crime”. No dia 9 de junho de 2002, uma semana depois do desaparecimento do jornalista, o chefe de polícia, Zaqueu Teixeira, anunciou oficialmente que Lopes estava morto, ainda que não tivesse sido encontrado seu corpo. Os policiais se basearam em indícios presentes nos depoimentos de presos que negaram a participação no crime, mas descreveram como ele teria ocorrido. “Muitas vezes, um homicídio não precisa ser confirmado com a descoberta do corpo”, justificou o delegado Carlos Henrique Machado, da Delegacia de Homicídios.
Somente no dia 11, por uma denúncia anônima, a polícia descobriu num cemitério clandestino na Favela da Grota os restos da microcâmera da TV Globo e fragmentos de ossos que foram encaminhados para exame de DNA. Os peritos da Universidade Federal do Rio de Janeiro confirmaram o 5 de julho que o exame de DNA comprovou serem do Lopes os restos mortais encontrados. O jornalista foi enterrado o 7 de julho no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. Além de amigos e parentes, a governadora Benedita da Silva e o chefe de Polícia Civil, delegado Zaqueu Teixeira, acompanharam a cerimônia.
O Rio de Janeiro é pródigo em assassinatos impunes. Em 1993, ocorreu a chacina da favela de Vigário Geral. Era uma vingança pela morte de policiais comandada pelo traficante Elias Maluco. Leonardo é advogada dos familiares dos mortos na chacina e diz que há dois anos não há julgamento dos culpados, porque a defesa bloqueia a Justiça, mudando de advogados - e a cada mudança, o novo advogado diz que precisa de mais tempo porque não conhece o caso -, pedindo novas diligências, convocando policiais que não vão depôr e, principalmente, ameaçando testemunhas.
A pressão para apurar a morte de Lopes provocou críticas da polícia. “Há 15 dias morreu um policial civil às sete da noite, tinha 33 anos e também estava trabalhando. A Rede Globo deu uma nota pequena. Estão colocando Tim Lopes como deus, mas há outros crimes. Nós, policiais, também somos vítimas e não gostamos disso - há muita colaboração das organizações não-governamentais, mas quando um policial é morto nestas circunstâncias, não vejo ninguém no enterro, nem dando apoio à família”, comentou o delegado Carlos Henrique Machado.
Estado Paralelo
O fato de Lopes ter sido preso e “julgado” por traficantes por ter invadido a área deles sem permissão, e a descoberta de um cemitério clandestino no morro do Complexo do Alemão levaram as autoridades federais a declarar que existe um Estado paralelo nas favelas do Rio de Janeiro, sob o comando dos narcotraficantes. As declarações geraram uma troca de acusações entre representantes dos governos estadual e federal sobre de quem é a responsabilidade pelo Rio de Janeiro ter chegado a essa situação.
O chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro, Zaqueu Teixeira, contestou: “Não há Estado paralelo, o que existem são zonas conflagradas e amarras legais que impedem a polícia de agir: para prender alguém, é preciso ter um mandado de busca, que demora a ser expedido”. O subsecretário de Segurança Pública, Ronaldo Rangel, lembrou que as armas e as drogas dos narcotraficantes vêm de outros países, e quem controla as fronteiras é o Governo Federal.

O juiz aposentado Walter Maierovitch, que preside o Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais e dá cursos de especialização sobre crime organizado e drogas, analisa a situação do Rio de Janeiro de uma forma mais ampla: “Não estamos falando de quadrilhas e bandos, são associações de delinqüentes especiais que atentam contra o estado de direito e contra os direitos e as garantias individuais, o que representa uma autêntica situação de segurança nacional - portanto, de competência do Governo Federal”. Maierovitch compara essas associações às máfias, porque têm controle territorial e social.
Uma opinião que chama a atenção é a do deputado estadual atualmente sem partido, Hélio Luz, que comandou a Polícia Civil no Rio de Janeiro de 1995 a 1997 e ousou enfrentar o poder dos narcotraficantes. Segundo Luz, o Complexo do Alemão existe porque o Estado brasileiro necessita dele para se manter no poder, e para manter a população de excluídos nos morros. Luz critica inclusive o papel da igreja e de algumas instituições do Terceiro Setor que, a seu ver, atuam nas favelas ajudando a acalmar a situação, sem questionar a má distribuição de renda que é a verdadeira causa da miséria das favelas. De uma forma geral, para o cidadão comum, a criminalidade sempre existiu. A diferença é que agora está chegando à classe média.
Na visão de Luz, Lopes foi morto por responsabilidade de um Estado violento e corrupto, que não tem controle de suas instituições internas e dos seus poderes, e cujo dever de casa deveria ser, primeiro, manter o controle de sua polícia para baixar os índices de criminalidade.
A morte de Lopes também serviu de pretexto para o presidente do Tribunal de Justiça, Marcus Faver, criticar a burocracia que impede o exercício da Justiça e propicia que traficantes como Elias Maluco sejam soltos. “No Brasil, os direitos e as garantias são levados a extremos tais, que criam barreiras”, reclama o desembargador. “Por que o criminoso tem que estar presente nas audiências, não poderia estar somente seu advogado?”. Faver lembra ainda que há juízes que acumulam duas Varas Criminais e há Varas sem juízes. A solução, a seu ver, passa por uma reforma no processo penal e na gestão administrativa.
Em 11 de junho de 2002, o Senado Federal aprovou algumas mudanças no Código de Processo Penal com o objetivo de evitar casos como o de Elias Maluco. As mudanças ainda dependem da aprovação da Câmara dos Deputados. Incluem, por exemplo, a obrigação de um juiz justificar sua decisão para conceder o habeas corpus anulando a decretação de uma prisão preventiva. E prevêem a possibilidade de o juiz interrogar réus à distância, através de circuitos de televisão, para evitar constrangimentos de testemunhas.
A impunidade, no Brasil, algumas vezes está relacionada ao poder eleitoral, lembra Tânia Maria Salles Moreira, 50 anos, procuradora de Justiça da 7º Câmara Criminal do Rio de Janeiro. Durante 12 anos, ela atuou como promotora numa das regiões mais violentas do Rio, a Baixada Fluminense. No Rio de Janeiro, quando os candidatos querem entrar nas favelas, pedem permissão aos traficantes, que são os maiores empregadores nos morros, e por isso têm poder de mando. “A maioria dos votos vêm de comunidades sob a ordem desses senhores”, salienta a procuradora.

No Rio de Janeiro, ser jornalista é profissão de risco

“A morte de Tim foi um atentado eficaz. Hoje, pode-se imaginar que todas as redações estejam com medo e vai dar trabalho elaborar uma estratégia de cobertura que enfrente o medo e não nos cale. Somos jornalistas, queremos a verdade”, diz Kamel, da TV Globo.
O jornalista Marcelo Beraba, da sucursal da Folha de São Paulo no Rio de Janeiro e presidente do Comitê de Liberdade de Expressão da Associação Nacional de Jornais (ANJ), propõe que a imprensa carioca se una para dar continuidade ao trabalho iniciado por Lopes. “Temos que ir até o fim na morte do Tim e no que ele estava investigando”, afirma.
Num Estado em que a população de classe média e alta vive cercada por favelas, e em que os enfrentamentos entre polícia e bandidos são diários, é impossível ignorar que o Brasil vive uma guerra civil. Identificar quem são os traficantes de drogas e armas, os corruptos e os corruptores, em qualquer lugar do mundo, é sinônimo de perigo. No Rio de Janeiro, quem já esteve sob a mira dos traficantes fica marcado para sempre. “Ninguém pode falhar nesse momento, isso custa a vida”, lembra Aldir Ribeiro, 49 anos. Hoje ele dirige um programa na Televisão Educativa do Rio de Janeiro. Mas, quando era repórter do Documento Especial da Televisão Manchete, fazia matérias investigativas e recebeu várias ameaças. “Todo dia eu pensava em parar. Você passa a não ter mais paz, acha que todo mundo está te olhando”.
João Antônio Barros, 39 anos, de O Dia, teve sua cabeça a prêmio depois que passou um tempo vivendo dentro da cadeia Bangu 3, sem se identificar como jornalista. Fez uma reportagem sobre corrupção no sistema penitenciário e soube depois que alguém propôs pagar R$ 50 mil para que ele fosse morto. “Medo a gente tem todo dia, mas, se não fizer as matérias, deixa de trabalhar”, reconhece. “Não consigo imaginar jornalismo sem denúncia”. Barros constata, porém, que os jornalistas mais jovens não sobem os morros do Rio de Janeiro como os mais experientes faziam no início da carreira.
O assassinato de Lopes deve servir como exemplo, diz Marcelo Leite, de O Dia. “Temos que ir atrás dos “Elias Maluco” não só do tráfico, mas do Judiciário, da Polícia e da Política”, encara. Leite conta que havia recebido a mesma denúncia dos moradores da favela da Vila Cruzeiro que estava sendo investigada por Lopes, uns 15 dias antes de saber do desaparecimento do colega.
“O assassinato de Tim Lopes foi uma morte anunciada”, acredita a jornalista Cristina Guimarães, 38 anos, que vive atualmente escondida. Em outubro de 2001, Cristina pediu seu desligamento da TV Globo, alegando que a empresa não lhe ofereceu proteção quando foi ameaçada de morte. Ela era co-autora da reportagem “Feira das Drogas”, feita junto com Lopes e outros dois jornalistas, e veiculada no Jornal Nacional de agosto de 2001. A repórter entrou nas favelas Rocinha e Mangueira, no Rio de Janeiro, com uma microcâmera escondida na bolsa para mostrar o tráfico de drogas. Por causa da reportagem, traficantes da Rocinha foram presos.
Cristina foi informada que pessoas estavam rondando seu local de trabalho e que uma delas disse que os traficantes estavam oferecendo R$ 20 mil por sua cabeça. Cerca de dez dias depois, ao ler os jornais, soube que um funcionário do departamento de Esportes da TV Globo havia sido seqüestrado por traficantes da Rocinha, e que estes queriam saber quem era o autor da reportagem “Feira das Drogas”. O fato foi registrado pela 15ª DP.
Também passou a receber telefonemas anônimos. Angustiada, com medo, resolveu se afastar do trabalho. Entrou com uma ação contra a empresa, desligou-se do trabalho em novembro de 2001, e procurou a Anistia Internacional para ajudá-la a sair do país.
Sua advogada, Cristina Leonardo, pediu em junho de 2002 ao Secretário de Segurança Pública e ao superintendente da Polícia Federal para que o caso de Cristina Guimarães seja investigado. A advogada teme pela vida da jornalista e que a morte de Lopes esteja associada às ameaças recebidas por sua cliente.
Uma ex-funcionária que fazia o programa Linha Direta também vive escondida e com medo. O programa mostra crimes que continuam impunes, os reconstitui, dá nome aos suspeitos de terem cometido os crimes e pede ajuda da população para encontrá-los. A produtora, que pediu para não se identificar, disse que usava câmera escondida e que foi pressionada mais de uma vez para fazer matérias arriscadas.
“Desde que entrei no Linha Direta, eu recebia ameaças e brincava com as pessoas, dizendo que tinham que entrar na fila para me matar. Nunca dei bola. No único momento em que tive medo, não consegui mais ser como os diretores da TV queriam que eu fosse”, relata. A gota d’água aconteceu quando começou a apurar a atuação de traficantes e de um grupo de extermínio da Baixada Fluminense. A própria promotora que investigava o caso alertou a jornalista que ela se cuidasse, porque já tinha sido ameaçada e que, com a reportagem, poderia correr risco de vida.
Um dia, ao retornar para a sede da televisão, a jornalista percebeu um carro, com pessoas armadas, na frente. Pediu proteção, mas o diretor de programação disse que não havia motivo para tanto, que isso poderia alarmar outros repórteres.
Questionado sobre casos como o desta produtora, César Seabra, editor regional da TV Globo no Rio de Janeiro, garantiu: “Quando necessário, a empresa dá segurança”. Luis Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, lembra que vários jornalistas da TV Globo foram enviados para outros Estados ou para fora do país por estarem em situações de risco. Em alguns casos, são contratados seguranças particulares para acompanhar o profissional ameaçado. No caso de Cristina Guimarães, ele foi enfático: "Se tivéssemos conhecimento, teríamos tomado providências". Diante da ação judicial de Guimarães, o juiz aceitou a sua saída da Globo, mas não acolheu o pedido de proteção.
Um exemplo de dignidade no Jornalismo
Tim Lopes era uma unanimidade entre os colegas. No dia em que foram encontrados os fragmentos de ossos, uma corrente (mais tarde identificada como sendo do jornalista) e pedaços da microcâmera com a plaqueta da Rede Globo, os fotógrafos e repórteres que estavam no local deram as mãos em torno da cova e rezaram, em prantos. Mais de um ato público foi organizado pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e pela Associação Brasileira de Imprensa, no centro do Rio de Janeiro, exigindo das autoridades providências para encontrar o corpo de Lopes e os culpados de sua morte. Os colegas da TV Globo encerraram uma edição do principal noticiário da emissora, o Jornal Nacional, vestidos de preto, numa salva de palmas, em homenagem a ele.
Tantas manifestações se devem ao fato de que Lopes, conhecido por seu jeito humilde e brincalhão, era admirado por suas reportagens brilhantes e pela coragem de trazer para o asfalto a realidade das favelas que ele, criado no morro da Mangueira, filho de uma família pobre, conhecia como ninguém. “O Tim era o que se tem de mais nobre na profissão, sempre na busca por justiça, por ajudar as pessoas que precisam, pelo furo, pelo diferente”, recorda César Seabra, 41 anos, da editoria regional da TV Globo no Rio de Janeiro.
O fotógrafo Marcos Tristão, que trabalhou com o jornalista em O Dia, brinca que é possível ver vários Tim Lopes passeando nas ruas do Rio de Janeiro, porque ele tinha a cara do carioca. Mulato, nos últimos tempos dono de uma barriga que lhe rendeu o apelido de “Véio Zuza”, Lopes portava um sorriso amplo e o jeito de quem podia se travestir do que quisesse. Foi assim que se passou por mendigo para se aproximar dos meninos de rua e retratar sua realidade numa reportagem no Jornal do Brasil. Noutra matéria, virou operário de estrada, e em outra, era um sem-teto relatando suas experiências para O Dia.
“Sempre procurei investigar, no fundo, no fundo, a alma das pessoas”, disse uma vez. Por isso, não registrava apenas as mazelas do povo. Descobriu talentos que colocou na televisão, e incentivou, por meio de suas reportagens, projetos sociais como o dos pré-vestibulares comunitários para afro-descententes, na região da Baixada Fluminense. Ponderado, quando se tratava de discutir uma questão delicada, começava a frase do mesmo jeito: “O bom senso diz que...”
Numa das primeiras reportagens que fez na TV Globo vestiu-se de Papai Noel e mostrou os sonhos da população. Internou-se numa clínica de recuperação para dependentes químicos e mostrou os dramas vividas pelos doentes. Para os telespectadores da maior rede de televisão do país, no entanto, o nome de Lopes era pouco conhecido porque ele se dedicava mais a fazer o trabalho de produção jornalística: por trás da câmera, sem mostrar o rosto, conseguia mostrar o que todo mundo desconfiava ou sabia, mas que ninguém tinha coragem de denunciar. Graças a essa audácia, foi premiado, junto com a equipe, pela reportagem “Feira de Drogas”, quando gravou com uma microcâmera o livre comércio de drogas no Complexo do Alemão, numa favela próxima à Vila Cruzeiro, local onde foi morto.
Numa conversa com estudantes de Jornalismo disse uma vez que, em busca da notícia, na hora em que estava apurando os fatos conseguia se manter numa frieza absoluta, depois é que ficava assustado. Na sua última reportagem investigativa, porém, seu instinto lhe dizia que, desta vez, os riscos eram muito grandes. Na semana antes de desaparecer, ele chegou a comentar com a mulher, Alessandra Wagner, que a “barra” na Vila Cruzeiro era mais perigosa do que na “Feira de Drogas” e que iria se expôr muito. Começava a pensar em não fazer mais esse tipo de reportagem. Já havia acertado que, depois de encerrar este trabalho, iria acompanhar um caminhoneiro em sua viagem, numa matéria de comportamento para o programa Globo Repórter.
Gaúcho de nascimento, mas criado no morro da Mangueira, no Rio de Janeiro, Lopes mantinha o gosto pelo samba e carnaval, e desfilava no bloco “Simpatia é quase amor”. Lia muito. “Ele sempre falava em escrever um romance baseado nas experiências que teve como jornalista”, lembra o advogado André de Souza Martins, concunhado de Lopes. Desde 1999, estava escrevendo, com o amigo e jornalista Alexandre Medeiros, o livro “Eu sou o samba”, com perfis de personagens do samba carioca desconhecidos da maioria da população.
O funk na visão de Tim Lopes
Em 1994, Lopes escreveu uma série de reportagens para o jornal O Dia, do Rio de Janeiro, sobre os bailes funk. A série ganhou um prêmio como melhor reportagem publicada no jornal naquele ano. No mesmo período, Lopes passou a escrever uma coluna semanal, às sextas-feiras, no caderno de Cultura, com a programação e destaques de personagens do universo funk. Desde então, os bailes mudaram, assim como o perfil dos traficantes nos morros cariocas. Este ano, a denúncia não se centraria nos bailes, mas no forte armamento dos jovens que o freqüentam, no consumo de drogas e na exploração sexual de menores de idade. Ironicamente, oito anos depois das primeiras reportagens, o jornalista voltou a um baile funk e deparou com a própria morte.
Em 27 de fevereiro de 1994, ele denunciava outro tipo de violência associada aos bailes:
“Aqui, embaixo da linha do Equador, nos becos do Complexo do Alemão, o pancadão funk tem outras assinaturas, mas também está associado ao prazer, ao desabafo e à violência. Mas funk não é só música. É um modo de viver. (...) São os donos da rua, do bairro, da cidade, dos seus narizes. Estão sempre prontos a mostrar que podem vencer qualquer embate, encarar qualquer parada. Assim explodem as brigas, os confrontos entre galeras. Nos últimos três anos, mais de 50 jovens morreram nos combates entre funkeiros, centenas saíram feridos. O mundo funk guarda espaço para paus, pedras e armas de fogo, abriga tribos nômades que espalham alegria e terror. É um ritual de vida e morte.”

ARCANJO ANTONINO LOPES DO NASCIMENTO, conhecido como TIM LOPES

(18/11/1950 - 2/06/2002)
Data do assassinato: desapareceu em 2 de junho de 2002. Depoimentos de traficantes presos indicam que foi morto entre as 22h e as 24h desse dia.
Local e circunstâncias do assassinato: por volta das 17h de 2 de junho, domingo, Tim Lopes foi até a favela Vila Cruzeiro, no bairro Penha, subúrbio do Rio de Janeiro, com uma microcâmera escondida numa pochete que levava na cintura, para gravar imagens de um baile funk promovido por traficantes de drogas. Ele havia recebido uma denúncia dos moradores da favela de que no baile acontecia a exploração sexual de adolescentes e a venda de drogas. Ia checar também a informação de que os traficantes construíram um parque infantil num acesso da comunidade, para dificultar a ação da polícia, e que desfilavam armados de fuzis.
Provável causa: os traficantes estranharam a presença de Tim Lopes no local. Há suspeita de que, uma vez descoberto, sua morte tenha sido decidida como vingança pela reportagem feita anteriormente, sobre a venda de drogas no morro, veiculada em agosto de 2001 pela TV Globo. Depois desta reportagem, vários traficantes foram presos e o tráfico da região teve um prejuízo econômico durante um bom tempo. Outras hipóteses são de que Tim Lopes tenha sido confundido com um policial ou um informante da polícia.

Suspeitos: segundo testemunhas, a morte de Tim Lopes foi definida pelo traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, um dos líderes do grupo criminoso Comando Vermelho, que domina o complexo do Morro do Alemão, formado por 12 favelas. As investigações indicam que participaram outros oito traficantes de sua quadrilha. Entre eles, André da Cruz Barbosa, o André Capeta, Ângelo Ferreira da Silva e Elizeu Felício de Souza, o Zeu. Antes da execução, os traficantes fizeram uma espécie de julgamento para decidir sobre a morte do jornalista. Ele foi torturado antes de morrer.

Fonte: De Clarinha Glock - site www.impunidad.com

A dois passos do inferno

Apenas uma foto difere a primeira página do "Jornal do Brasil" dos demais jornais do País de terça-feira, dia 4 de junho de 2002. Três velhos latões alaranjados repousam, com suas bocas sujas de fogo, sobre um barranco no meio do mato. As suspeitas que recaem sobre essas corriqueiras peças de lixo urbano, porém, são alarmantes: um desses latões pode ter sido o depósito dos restos humanos do repórter Tim Lopes, da rede Globo.
O jornalista de 50 anos está desaparecido desde o último domingo, quando colhia imagens para uma reportagem sobre o suposto aliciamento de menores num baile funk promovido pelo tráfico na Favela Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Lopes atendia ao pedido da população do bairro vizinho, a Penha, para flagrar o desatino que punha em risco a moral de suas famílias, se comprometendo a ajuda-lo com informações sobre o baile que, segundo relatos, acontecia com sessões de sexo explícito com menores de idade e consumo de drogas. Tim voltava ao terreno que lhe conferiu o Prêmio Esso do ano passado - o primeiro no jornalismo televisivo --, ao lado da jornalista Cristina Magalhães, para filmar com uma micro-câmera a feira livre de drogas que costuma acontecer em sua rua principal.
Tempo também suficiente para que Tim seja encontrado e seu trágico destino, que na terça-feira foi traçado de forma tão nefasta, não se confirme. E é justamente essa apreensão que toma de assalto os profissionais de jornalismo e o próprio jornalismo no país. Porque, caso se confirme o assassinato de Tim pelo tráfico local, a imprensa estará acossada e sujeita, como afirma o artigo de Nelson Hoineff no próprio "Jornal do Brasil", a um novo tipo de censura que poderá se instalar sem precedentes sobre sua historicamente sofrida liberdade, tendo como promotor o crime organizado.
Hoineff comenta os avanços conquistados pelo telejornalismo investigativo com repórteres como Tim Lopes, trazendo para a sociedade a luz do problema detectado com a "límpida" imagem do fato, captado tal como ele é, o que jamais conseguiu o jornalismo analítico. A virada desse novo século foi particularmente tocada por essas imagens que vêm revelando ao mundo e ao Brasil o realismo surpreendente dos fatos, como os atentados de 11 de setembro (mesmo que captado sob surpresa), a verdadeira destruição da cidade de Jenin pelo exército de Israel (mesmo que captada tardiamente), a face cruel do médico pedófilo em pleno aliciamento de menores (mesmo que captado pelo próprio acusado), a frieza dos políticos corruptos em negociata nas dependências da própria prefeitura numa cidade do interior fluminense (em mais um trunfo da emissora carioca).
A nova censura - legitimada pelos altos índices de violência nas cidades e pelo constante desafio do crime organizado frente às instituições - poderá causar, segundo Hoineff, um efeito retroativo nessa inovadora maneira de se fazer jornalismo. E estará deixando a sociedade ainda mais desarmada frente aos descalabros que lhe são impostos com a fúria que só quem presenciou um ato violento pode saber - e jamais esquecer - como de fato aconteceu.
Mesmo com o difícil esquecimento, o registro da imagem é uma fundamental arma de denúncia. Afinal, de que resultaria a constante luta para que não seja esquecido o Holocausto, se não houvesse aquelas imagens que nos tomam o peito de tristeza e de lamento ao revelar o genocídio de suas vítimas? (Mesmo que essas imagens, é sempre bom lembrar, jamais consigam reparar tamanha crueldade).
Márcio Dal Rio Pinheiro

Alvos de operações, Vila Cruzeiro e Jacarezinho são redutos de facção

Favela ocupada pela polícia se tornou espécie de bunker de criminosos que fugiram de áreas dominadas por UPPs instaladas no Rio

Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro | 25/11/2010 17:40


Com operações realizadas hoje na Vila Cruzeiro e no Jacarezinho, a polícia do Rio ocupa os dois principais centros de poder e controle da mais violenta facção criminosa do Rio.
A partir da implantação das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), a Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha (zona norte do Rio), transformou-se em uma espécie de bunker de traficantes de diferentes favelas de uma facção criminosa. Estima-se que cerca de 400 criminosos estivessem abrigados nessa região. O Jacarezinho é considerado um importante paiol do mesmo grupo criminoso.

A Vila Cruzeiro é alvo da principal operação da Secretaria de Segurança hoje, com ao menos 360 policiais civis e militares e apoio de veículos blindados e 80 homens do Corpo de Fuzileiros Navais, da Marinha.
Em reação à ação policial, criminosos que estavam na Vila Cruzeiro fizeram barricadas, usando até caminhões, e fugiram pelo alto da favela, em direção ao morro do Alemão, como foi mostrado em imagens de helicóptero da TV Globo.
Com 19.511 moradores e 5.593 domicílios, de acordo com o Censo 2000, a Vila Cruzeiro fica na área com o pior IDH (índice de desenvolvimento humano) entre os 126 bairros do município do Rio, 0,711. A expectativa de vida da população na região é de 64,8 anos, e a taxa de analfabetismo é de 14%. O Jacarezinho também está entre os piores índices, na 121ª posição, com 0,731.
Em junho de 2007, uma megaoperação das polícias Civil e Militar, com cerca de 1.200 homens, no complexo resultou na morte de ao menos 19 pessoas em apenas um dia. Foi reação ao assassinato de dois policiais militares, mortos por traficantes daquela localidade. A ocupação durou ao menos seis meses.
Foi na Vila Cruzeiro que o jornalista Tim Lopes, da TV Globo, foi capturado quando fazia reportagem sobre bailes funk. Levado para o alto do morro da Grota, Tim Lopes foi torturado e assassinado. O jogador de futebol Adriano, ex-atacante do Flamengo, foi criado na Vila Cruzeiro.