quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O rebelde de batina

01/01/2011
O padre Correia de Almeida usou a poesia para denunciar com ironia os problemas do Império e da República
Maria Marta Araújo
Ele era um padre que não gostava de dar sermão. Na época do Império, preferia escrever poemas criticando a escravidão, alicerce econômico do regime. Quando veio a República, passou a denunciar o autoritarismo dos presidentes e a ironizar o novo governo. Para isso, o mineiro José Joaquim Correia de Almeida (1820-1905) usou como instrumento a sátira política e de costumes. Mais do que um velho reclamão – imagem que ele mesmo gostava de cultivar –, foi um autor que hoje ajuda os historiadores a entender melhor os conflitos da virada do século XX, momento de grandes mudanças no país. 

Seu principal livro, A república dos tolos, foi publicado em 1881, oito anos antes da queda da monarquia. Nesse poema “herói-cômico-satírico”, o chamado Padre Mestre exibe uma galeria de tipos da realidade social e econômica da época, como os barões do café e os jovens bacharéis de São Paulo. Também expõe ideias correntes, como a doutrina positivista, com sua crença inabalável na ciência e na razão, e o evolucionismo, filho das teorias do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), e que integravam as novas modas e costumes, também ironizados pelo autor.

O protagonista é uma espécie de padre-poeta-músico, ou seja, o próprio Correia de Almeida. Ele ridiculariza pensamentos comuns na época, como no trecho em que propõe catequizar macacos para resolver o problema da “falta de braços” no Brasil. A obra denuncia o artifício ideológico utilizado para transformar em questão pública os problemas de uma classe em particular: “Eu necessito de auxílio/ dos grandes capitalistas,/ para ser executado/ um plano de largas vistas,/ e que é todo a bem do Estado”. (...)

Leia a matéria completa na edição de Janeiro, nas bancas.

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