sábado, 6 de novembro de 2010

PERSONAGENS DA HISTÓRIA REVISITADOS

Tópico enviado por Yvelise Moura

29/10/2008 - 20h00m

CARLOTA JOAQUINA (1775-1830) foi eternizada como uma espanhola bigoduda que odiava o Brasil e sacudiu os sapatos ao sair daqui, essa foi a persona criada pelo movimento liberal, num momento em que as transformações sociais e políticas do século XIX exigiam reinvenções do passado, como forma de legitimar um presente que se queria construir. A verdadeira Carlota Joaquina foi uma rainha portuguesa que nunca perdeu sua identidade espanhola, foi contra a vinda da família real ao Brasil, defendeu o Absolutismo, se recusou a assinar a Constituição Liberal português, era uma política hábil capaz de ir muito além do papel subalterno a que a corte lusitana constrangia as mulheres e certamente não cabia na galeria de personagens dignos da memória nacional. Não nos cabe reabilitar ou denegrir essa ou aquela personagem histórica e sim tentar conhecer o homem ou a mulher dentro seu tempo, da produção historiográfica sem nos prendermos aos estereótipos que marcaram sua memória e tracejaram suas atuações na esfera pública.

A trajetória de vida de Carlota mostra a filha primogênita do rei Carlos IV, de Espanha, que aos 10 anos casou-se com o futuro dom João VI num típico casamento diplomático que visava ao pacto entre as duas coroas ibéricas; uma mulher preocupada com as limitações do universo feminino de seu tempo e que no final do século 18 assume importante papel na política externa portuguesa. Na verdade, o maior problema dela não era ter vindo para Colônia, mas as condições em que veio: exilada depois de uma tentativa de conspiração em 1806, a corte portuguesa dividia-se entre anglófilos e francófilos e os franceses a apoiaram para que assumisse o poder como regente no lugar do marido. Ela foi colocada incomunicável, afastada de todos, com a correspondência controlada pelo grupo político de d.João até o embarque para o Brasil. Ao chegar soube que os pais, monarcas da Espanha, estavam prisioneiros de Napoleão, com quem haviam estabelecido uma aliança, que ela não havia aprovado, e que permitira a Bonaparte cruzar o território espanhol para invadir Portugal e por fim, a tirar o trono dos espanhóis para colocar em seu lugar o irmão. No exílio colonial, ela decidiu lutar pela preservação do império de seu pai nos vice-reinados espanhóis na América trópicos e articulou planos para exercer a regência da Espanha a partir da sede da monarquia, em Buenos Aires, coordenando uma possível resistência à invasão napoleônica e garantir para a dinastia dos Bourbon a coroa espanhola. Carlota fez grandes inimigos na Colônia que anteviam em suas ações perigo para os planos de estender o império português para as áreas ocupadas pela coroa espanhola. Sua atuação na esfera pública, negociando acordos diplomáticos, articulando para ascender ao poder, pleiteando a regência da Espanha, certamente transgrediam o espaço determinado para as princesas consortes; ela não se encaixava, era temperamental, autoritária e ambiciosa... Passar isso para a posteridade através de quadros que a retratavam com feições marcadamente masculinas em detrimento de sua notável atuação política não foi justo. Simpatias ou antipatias a parte, Carlota Joaquina foi uma mulher histórica, personalidade difícil de entender para seus contemporâneos, mas certamente uma das precursoras da presença feminina no cenário político.

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