sexta-feira, 18 de março de 2011

MERCADO DE PEIXE EM NITEROI

Educar e catequizar. Este era o lema dos jesuítas, essa brava coorte de religiosos fundada por Santo Ignácio de Loyola, ele mesmo um soldado convertido.

Organizadíssimos, os jesuítas impregnaram nossa nacionalidade. Basta lembrar que lhes pode ser tributada grande parte da preservação da unidade nacional, por conta de seu empenho na criação de uma língua geral neste mundaréu tropical a que chegaram as caravelas de Cabral.

Porém, mais decisiva ainda foi sua influência na história da educação brasileira. Durante 210 anos, esses “soldados de Cristo” comandaram a educação no Brasil, até sua expulsão, por ordem do famoso Marquês de Pombal.

Pondo em prática a missão prevista em seu lema, os jesuítas disseminaram pelas terras brasílicas os dois instrumentos de sua ação: igrejas e escolas.

Quando se foram, os padres da Companhia de Jesus deixaram em milhares de outeiros, em pequenos lugarejos por eles mesmo fundados, ou em cidades maiores, igrejas e capelas que fizeram construir. Uma delas ali está, quase debruçada sobre o mar: é a Igreja de São Francisco.

De longe, parece uma igrejinha frágil, de uma fragilidade bela, com seu branco e azul bem integrado à paisagem. Mas de perto, apesar das relativamente pequenas dimensões, mostra uma impressionante solidez, como a testemunhar o empenho e a coragem com que as casas de Deus eram construídas, nessa guerra de colonização em busca da conquista dos corpos e das almas dos gentios.

Até pouco tempo o bairro de São Francisco era denominado “Saco de São Francisco”, nome que o purismo de alguns baniu, mas que continua a ser usado pelos niteroienses zelosos de seu passado e de suas tradições. Esse “saco” seria, quase com certeza, o fundo da Baía de Guanabara. E a história da igreja começa aí, em meados do século XVII, quando foram mensuradas as “terras do saco”, onde havia, além da aldeia indígena de São Lourenço, a fazenda do Capitão Mateus Antunes, mais tarde vendida aos jesuítas.

Entre 1662 e 1696, foi construída a capela, cujo autor provável é o arquiteto jesuíta Lourenço Gonçalves.

Quando os jesuítas foram expulsos, seus bens foram vendidos. A construção só voltaria a ser propriedade da Igreja por ocasião da Proclamação da República.

Vemos que a história concede importância àquela igrejinha. No entanto, sua majestade parece vir mesmo de sua existência, simples e bela, num lugar de onde nossa visão domina a praia, com as águas parecendo formar um imenso e indócil tapete verde, com suas pregas do ir e vir das ondas.

Raros lugares oferecem tanta paz para a contemplação, tanto da paisagem quanto do interior de nós mesmos. É gostoso estar ali; deixar-se ficar, simplesmente, olhando as folhas que caem serenamente de mangueiras centenárias; vendo barquinhos de regatas enfunando suas velas brancas, como a repetir um passado de onde se avistavam garbosas naus; ou simplesmente vendo o sol se pôr sobre a Baía de Guanabara, como não se põe sobre nenhum outro lugar do mundo.

Vez por outra, a igrejinha se engalana. São os niteroienses que resolvem fazer da capela e de sua área externa o lugar sagrado de sua união em casamento. Então, a veneranda igrejinha se adapta aos tempos, e acolhe desde convivas preocupados com a própria elegância e suas convenções à cerimônia sempre tocante da união conjugal.

Santo Ignácio de Loyola e o próprio São Francisco certamente se sentiriam à vontade nesse pequeno grande templo à beira do mar. Como neles, e em suas vidas e obras dedicadas a Deus, há simplicidade, beleza, humildade, fortaleza voltada para o bem, louvor ao espírito, fé…

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